Esta questão, mais que uma
pergunta, suscitou e suscita muita curiosidade. É verdade que, durante um
período, parei. De ensinar, de dançar, de aparecer. Porque assim teve de ser.
Eu não queria, mas a Vida impôs-me.
Tive actividade intensa durante 14 anos seguidos. E quando digo
intensa quero dizer várias horas por dia a dar aulas, quase todos os fins de
semana a dançar em eventos, mentoria de workshops e cursos pelo país. Foi mesmo
muito trabalho a abrir caminhos e a dar a conhecer a Dança Oriental, numa época
onde as redes sociais e o "online" ainda não eram uma moda.
Chegou a um momento, que sinceramente... estava exausta. Física e
psicologicamente. Nós bailarinas, para além do trabalho físico que todos
"aparentemente" entendem, temos uma pressão enorme em arranjar
trabalho, alunos, eventos, etc... nada, mas mesmo nada nos cai do céu e nós
acabamos por ser as nossas próprias empresárias e promotoras. Este trabalho de
bastidores é... exaustivo e muitas vezes frustrante. Temos de fazer 1000 para
conseguir 10, quando conseguimos os 10. Remei, contra a maré, vezes sem conta e
claro, por mais alegria que me dava cada conquista, por mais realização que me
dava ultrapassar cada desafio, deixa marcas. Estava profundamente cansada
quando a Vida, me brinda com a Raquel - a minha filha - e nesse momento,
percebi que tinha de fazer a pausa que teimosamente adiava.
Precisei de "desligar" para sentir necessidade de
dançar, de ensinar, de conquistar. Precisei de sentir saudades de ouvir música árabe,
de estar com pessoas e com alunas. Precisei de me refugiar no meu casulo para
gerar Vida enquanto a Vida se regenerava em mim. Porque um artista não é uma
máquina de criatividade. Não é mais uma peça de uma indústria que não para de exigir.
É um ser humano que sim, inspira, mas também tem de ter um feedback de carinho
e respeito.
Parei para inspirar. Para me lembrar. De quem eu sou, o que quero,
e para onde quero ir. Sim... quase me perdi. Mas consegui, nesta paragem,
visualizar de novo o caminho a seguir. Voltei a focar. Já tive muitos
(re)começos, mas recomeçar desta vez foi... assustador. Tive para desistir de
vez... mas mais uma vez, a Vida mo impediu. Quando decidi abrir a porta do meu
casulo, deparei-me com um mundo (na Dança) completamente diferente.
Transformado. Tive de me ajustar, repensar, posicionar-me. Claro, teve o seu
tempo... que não é nunca o tempo que queremos, mas é aquele que precisamos. E
toda esta paragem com uma filha no colo. Quando me descobria mãe. Porque também
parei para ser mãe. Podem ler a minha experiência nos posts: Assim Nasceu...uma Mãe e Os Primeiros 24 Meses do Resto da Minha Vida.
Toda esta paragem lapidou-me. E, embora me tenha custado muito
parar, agora vejo que me "salvou" e só tenho a agradecer quem me deu
a mão e não se esqueceu de mim. A essas pessoas - que sabem quem são -
devo-lhes para o resto da vida. Daqui para a frente o grande desafio é o equilíbrio
de todas as Sara`s que sou e não desfocar porque o que eu quero é ser feliz.
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