Avançar para o conteúdo principal

Afinal o que é ser humilde...

As bailarinas ouvem muitas vezes a palavra humildade, que temos de ser, viver e actuar com humildade. Concordo plenamente...
Mas o que é humildade? E quem é que pode dizer a outro tu és e tu não és humilde?
Socialmente uma pessoa humilde não ostenta riqueza nem vaidade, procura ser útil mas discreto e pede ajuda fazendo questão de dizer que não sabe tudo. Que pessoa humilde seria esta! E quase perfeita...
Lamento desiludir, mas não tenho todas essas características! Sou humana, tenho defeitos e muitos... como todos vocês!
Para mim, humildade é um valor que se adquire logo na infância e se desenvolve ao longo da vida. Mas acho que há vários graus e muitíssimas definições de humildade. O que pode ser para mim uma acção humilde para outro é algo bem diferente. Quantas vezes agimos ou dizemos algo que pensamos, que é natural aos nossos olhos, mas somos logo julgados: "Não és nada, humilde!"
Penso: como bailarina, posso ser humilde? Vocês dir-me-ão: Claro! Tens mais é que ser humilde!
E eu digo: Claro que tenho de ser e actuar com humildade, mas o que é ter humildade na dança?
É ter vergonha de dizer que tenho talento, que tenho sucesso, que luto todos os dias pelos meus sonhos e sou feliz pelas escolhas que fiz? É refrear os meus sentimentos, medir as minhas palavras, não magoar com a minha escrita, dançar o que querem ver? É negar-me a mim própria para agradar?
Lamento mais uma vez, mas se uma bailarina humilde é isso, então não o sou!
Para mim (e isto é a minha opinião pessoal, não é um valor absoluto) ser uma pessoa, e no meu caso ser uma bailarina humilde é:
- admitir as suas qualidades e virtudes, falhas e defeitos;
- acima de tudo ser fiel a si própria, tenho os meus valores que não os "vendo" só porque fica bem;
- SER realmente bailarina e transmitir ARTE cada vez que danço, não só um amontoado de movimentos, ter a responsabilidade de saber o que se está a fazer;
- é ter esta filosofia: ser fiel á minha intuição, aprender com os erros que vou cometendo e estar atenta ao mundo/pessoas pois tenho muito ainda que aprender;
- respeitar os outros tendo consciência que posso crescer espiritualmente com cada exemplo de vida, boa ou má.
Também se confunde muito a falta de humildade com arrogância?
Ou será muitas vezes se confunde arrogância com a ousadia?
E não será que a ousadia de uns causa a inveja de outros?
E esses outros que acusão tantos outros, de falta de humildade/arrogantes, não serão eles os primeiros a terem esses mesmos "defeitos"?
Será o acto de criticar/julgar um acto de humildade?
"Quem és tu para atirar a primeira pedra..." se calhar são aqueles que realmente têm a verdadeira falta de humildade... digo eu...

Comentários

  1. Realmente é verdade que lidar com os nossos egos e com os da sociedade é uma façanha à qual poucos conseguem alhear-se, a Sara pegou num dos temas polémicos mas existem tantos outros, para os quais nós comuns mortais não conseguimos obter resposta.
    Com isto apenas quero deixar a ideia que o que fazemos duma ou de outra forma vai ter sempre por parte de outro argumento de crítica, como se diz na gíria "preso por ter cão preso por não ter".
    O que nos pode confortar é saber que na nossa pequena e pouco talhada consciência, fazemos o melhor que sabemos, para assim viver de forma tranquila sem deixar esse tipo de situações nos transtornem, para sair vitoriosos dessas batalhas travadas em campos insípidos onde não nasce nada de produtivo.

    ResponderEliminar
  2. Até foi escrito no dia das mentiras.
    Existem excelentes bailarinas portuguesas, bem mais fluídas e que não necessitam do exibicionismo/vedetismo, exceptuando claro quando efectuam as suas actuações, mas aí é obvio já que encarnam uma personagem.

    Assinado: Patricia Rebelo

    ResponderEliminar
  3. Uma verdadeira bailarina de Dança Oriental, quando dança não encarna uma personagem, dança aquilo que é e sente.

    ResponderEliminar
  4. São opiniões... não é por se encarnar uma personagem que se deixa de sentir. Mas isso é para quem tem sensibilidade para discernir o sentido das palavras e da vida. Afinal durante a vida somos diversas personagens, esposa, mãe, bailarina, psicologas and so on...

    Patricia Rebelo

    ResponderEliminar
  5. Um artista de palco que se considere como tal, não tem que ter exibicionismo/vedetismo? Certo é que existem pessoas mais talhadas para a via de ensino/coreografia, e essas desenvolvem o seu louvável trabalho nos bastidores para que outros o possam mostrar, usufruindo estes últimos desse tal... exibicionismo/vedetismo. Todo o artista que se prese só o é se tiver um público, independentemente da sua área de especialização, expondo-se a si ou ao seu trabalho. Percebo pois que esta exposição possa por vezes ser confundida e mal interpretada. E a verdade, é que não é mesmo nada fácil, estar-se debaixo dos holofotes...

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Mensagens populares deste blogue

Depois de tantos anos a Dançar e a Leccionar, não estás cansada?

  Queres uma resposta sincera a esta última pergunta selecionada desta série? Estou. Mas isso não me impede - por enquanto - de continuar. Eu sou bailarina e professora por vocação. Desde que me lembro sempre foi o "meu sonho" ser bailarina. E sempre me vi a fazer isso. A vontade de ser professora veio mais tarde, já em adulta, com a necessidade de querer passar os meus conhecimentos e experiência a quem me procura. Percebi, cedo na vida, que não seria feliz nem realizada se, pelo menos, não tentasse seguir a minha vocação. Com coragem, determinação e muita "fé", arrisquei. E depois de tantos anos, apesar de tudo, continua a fazer-me sentido. E, quando algo é tão natural e intrínseco a nós, é difícil ignorar e, largar. Com isto, não quero dizer que foi ou é fácil. E hoje, digo: preferia não ter esta vocação... preferia ter tido a vocação para ser médica, ou advogada, ou até arquitecta... tudo teria sido tão mais fácil. Tão mais aceite. E tão mais reconhecido...

Diário de Uma Professora de Dança Oriental - #aula20

 Querido Diário: Quando temos AS pessoas ao nosso lado, tudo faz sentido. Não sei se essas pessoas são as certas, mas, são as que precisamos. E são essas as alunas que tenho tido ao longo de todos os anos. As que preciso. São elas que validam a minha dança. São elas que a impulsionam . São elas que a fazem crescer. São elas que não me fazem desistir e continuar a acreditar que é possível. Sem alunos, um bailarino é mais pobre. Até pode ter todos os aplausos do mundo, mas falta a amizade conquistada em cada aula. A relação construída em cada aprendizagem. Aquela conversa antes da aula... Aquela partilha sincera depois dela. Desengane-se quem pense que aulas de dança se limitam a aprender um amontoado de passos técnicos e cénicas coreografias. O que se gera numa aula é muito além... de toda a tua expectativa. E não é sobre aquilo que queres. É sobre que precisas. E muitas vezes, o que precisas é só que te arranquem um sorriso que descomprime e te alivia.   ...

Diário de Uma Professora de Dança Oriental - #aula21

 Querido Diário: A aula desta semana teve sabor a Carnaval e com um pouquinho de “samba no pé”. Aconteceu logo pela manhã e que bem que soube! Poder acordar com calma e começar o dia a dançar é um luxo. Nem todos podem e nem todos querem... Confesso que sou uma pessoa noturna, mas, forço-me a fazer algum exercício regular pela manhã e sempre que é possível, dou também aulas. Ao início custou-me, mas depois, habituei-me. Não só desperta o corpo, mas, e principalmente, alimenta (e bem) a alma. Sinto que fico nutrida para o resto do dia, com mais energia, com melhor humor e sem sentir tanto dramatismo. Dançar pode não curar depressões, mas (e disto tenho a certeza) Alivia, Descomprime, Descomplica. Dá outra perspetiva . Mostra que é possível superar Dor, Desanimo, Solidão.   Dançar pode funcionar como antidepressivo natural que está ao alcance de todos. Usa e Abusa. Seja de manhã, à tarde ou à noite. Samba ou Dança Oriental... o importante é Dan...