O folclore ou a dança tradicional é completamente adorada por todos, é aquela que realmente vai ás origens do povo egípcio, é acessível e dançada por todos e toca no coração de toda a gente. Muitos dizem que essa é que é a verdadeira dança árabe e a que hoje vulgarmente conhecemos como dança do ventre não passa de uma exibição "barata" de vaidade e luxuria.
Eu adoro o folclore árabe. Tive a sorte de ir ver um espectáculo de Derviches (um género de dança folclórica dançada e tocada por homens) no palácio El Khoury, no mercado Khan el Khalili e aí é que pude assistir a um verdadeiro show de dança e música, simplesmente fantástico! Como eu gostava de partilhar convosco o talento que vi destes homens, são bailarinos e músicos que sem formação nenhuma montam um show de uma qualidade fora do vulgar. Adoraria mostrar-vos como os homens dançam maravilhosamente bem, sem imitações "abichanadas" como muito vemos por aqui. Só vendo...
O público marioritariamente estrangeiro mas também com muitos egípcios, vibraram com o poder e a riqueza que a dança folclórica transmite e foi só um estilo... também já assisti a um espectáculo (não nesta viagem, na anterior em 2007) da Reda Troup (companhia de folclore que actua não só no Egipto mas um pouco por todo o mundo, fundada pelo lendário Mahmoud Reda bailarino que deu a conhecer e dignificou a dança árabe no mundo) onde mostrava os vários estilos da dança floclórica e mais uma vez não há palavras para descrever a variedade que existe, é obrigatório ir ver! Um dia que tenham essa oportunidade não a percam, vale mesmo a pena ver como os movimentos, roupas, sons mais simples criam um efeito avassalador em todos que assistem.
A dança clássica, de cabaret, a que nós conhecemos como a dança do ventre ou Dança Oriental como é correcto dizer, surgiu numa evolução natural de haver a necessidade de requintar a dança folclórica, de modo a ser mais vistoso aos olhos de tantos estrangeiros que, na altura (estamos a falar do início do séc.xx), começavam a descobrir as riquezas do Egipto e claro que a dança não ficou indiferente.
E até hoje isso se mantém, ou seja, a Dança Oriental não é adorada e muito menos assecível à população em geral. Muitos acham a Dança Oriental pecaminosa e as bailarinhas prostitutas sem moral, que vão contra as leis islâmicas, simplesmente pelo facto de mostrarem o corpo em público.
É sim bastante consumida por turistas, que ainda têm a máxima de que, quando vão ao Egipto, têm de ver dança do ventre como quando vão a Roma têm de ver o papa. Assim, a Dança Oriental, no Cairo (e também pelo país fora) é dançada em night clubs de hotéis, nos famosos cruzeiros (barcos) muitos deles transformados também em night clubs, e em festas principalmente casamentos, como uma mais valia de entretenimento, que propriamente um espectáculo como nós imaginamos.Os egípcios que vão ver são normalmente pessoas com algum poder económico (estes espaço são caríssimos para a maior parte da população) e marioritariamente homens, que infelizmente, antes de ver a dança, vão ver a bailarina - mulher.
Durante alguns anos recusei-me a admitir que isto seria verdadeiro, mas é a mais pura e crua realidade. Não quero dizer que não apreciem a dança e que elas são mais streappers que bailarinas. Não! Eles realmente gostam de ver a dança mas apreciam mais o flirt que a bailarina faz e, com trajes que cada vez mais mostram o corpo, é impossível que eles não vejam a mulher. Percebem?
O pior são elas (bailarinas) e eles (managers e gerentes dos espaços) sabendo disto, aproveitam-se dessa carência social para chamar "clientela" a assistir aos shows. E como tudo no Cairo é negócio, se querem ver corpos dêem-lhes o corpo, a arte? Qual arte? O que interessa é ganhar dinheiro.... porque se não houver público, não há show, que por sua vez não há pagamentos a elas, aos seus músicos, managers e gerentes. E perguntam-me, não há o amor á arte de dançar por dançar? Não!! Há interesses...
Então vale tudo no mundo da dança no Cairo. Muitas delas perdem valores morais e deixam-se "vender" por estatutos e lugares nos melhores locais para dançarem (ou seja onde ganham mais dinheiro), algumas ainda vão com a ilusão de dançar pelo amor que têm á dança, mas logo se apercebem que ou entram no "esquema" ou são engolidas não tendo hipóteses nenhumas, outras valem-se do corpo que têm e encontram na dança o caminho para fugirem á pobreza, etc... há de tudo!
O público estrangeiro não percebe nada do que se passa e quando vão ver um show acabam por ficar com a ideia já pré-concebida de que a Dança Oriental é mesmo para seduzir. O público egípcio quer é ver o corpo, se por acaso até dançarem alguma coisa de jeito, melhor. E a dança no meio disto tudo não fica em segundo lugar, fica mesmo em último, sendo mais um pretexto para haver negócio, interesses, ilusões. É realmente desanimador...
Mas apesar desta triste realidade, a dança sobrevive e evolui como uma espécie em extinção que teima a adaptar-se e não a desaparecer. Embora no meio de tantos interesses, ainda se consegue ver, nalgumas bailarinas (cada vez menos), verdadeira dança. Conseguem, apesar de tudo que são sujeitas, ter verdadeiro talento e mostrarem criatividade e dança. São elas, que fazem a dança evoluir, reinventando, transformando, criando... e com elas adoro aprender e ver dançar, pois consigo ver para além de lantejoulas, pernas e ventres despidos, peitos quase de fora, maquilhagens berrantes, vejo dança... se todos vissem assim, principalmente os homens e também muitas mulheres, talvez as coisas mudassem. Mais uma ilusão...
Estive a ver o Reda Troupe aqui http://www.youtube.com/watch?v=wL1EHitZ-xo gostei muito!
ResponderEliminarFátima Alves