Avançar para o conteúdo principal

A Minha Viagem ao Cairo - 3ª parte - A Condição das Bailarinas

O que dizer das bailarinas/colegas que frequentaram o curso comigo e o que comentar das que fui assistir ao vivo... Todas nós de uma maneira ou outra definimos o que é a Dança Oriental nos dias de hoje, que é bem diferente de á uns anos atrás e será de certeza diferente no futuro.


Bom... Começo com as experiências contadas pelas minhas colegas nas longas horas de jantar, e o que eu descubro, surpreendente mente, é que a condição que tenho como bailarina cá, é igual em qualquer parte do mundo e que tudo depende da nossa atitude enquanto dançamos.


É verdade... sempre tive a ideia que trabalhar no estrangeiro, principalmente Europa é que seria bom, que em Espanha, França, Inglaterra, USA, e até mesmo no Egipto é que tinham verdadeiras condições e apoios para se ser bailarina. Tinham sempre bons locais onde dançar, com bons camarins, público educado que aprecia a dança e o nosso trabalho, não nos confundindo com uma stripper, como estava enganada... à medida que iam falando, revia-me totalmente nas suas experiências e pensava: "afinal não sou a única, todas elas passam o mesmo!"
A mesma luta de tentarem dignificar a dança (não se esqueçam que todas eram profissionais nos seus países com algum senso de auto-crítica senão não se dariam ao trabalho de se deslocarem até ao Cairo e pagar um curso bastante caro afim de aprender cada vez mais), a mesma guerra para que consigam ensinar convenientemente, a mesma desilusão quando o público é deselegante, a mesma força de tentar seguir sonhos, mesmo quando temos de dançar em locais menos próprios (para mim, todas as bailarinas deveriam dançar em espaços minimamente preparados para haver shows de dança, que como todos sabem não acontece com maior parte de nós), equiparmos em casas-de-banho imundas, andar sempre com a mala atrás com todo o equipamento, aturar a ignorância e ainda por cima assistir á imcompetencia de muitas mulheres que ainda usam a dança para se exibirem e seduzirem audiências masculinas sem perceberem um passo de dança.


Mas o grande "wake up" para mim, foi quando tive o privilégio de ir cumprimentar a Randa Kamel no seu camarim, antes do seu show no famoso Nile Maxim. Nem queria acreditar quando entrei... pior que muitos sítios onde já me vesti, fiquei mesmo de boca aberta. Era numa cave, num compartimento tipo arrecadação, com uma mesa e espelho pequenino improvisado, com uma cadeia e pouco mais. Esta foi mesmo uma chapada! Também quando assisti ao show da Dina, percebi onde se estava a trocar, para no final ir cumprimentá-la e o que vejo: trocava-se num escritório também improvisado. De novo outra chapada...

Imaginava: Randa Kamel, Dina, etc... divas da Dança Oriental, essas sim devem ter condições, a todos os níveis... mas não... enfrentam igualmente a mesma guerra que todas nós e pensam que o público é melhor só por serem elas?... irei noutro post contar-vos a luta que elas também travam.


Sinceramente senti um certo alívio e juro que nunca mais me irei queixar quando tiver de fazer omeletes sem ovos, afinal, fazem-nas um pouco por todo o mundo, até as divas...


Comentários

Mensagens populares deste blogue

Depois de tantos anos a Dançar e a Leccionar, não estás cansada?

  Queres uma resposta sincera a esta última pergunta selecionada desta série? Estou. Mas isso não me impede - por enquanto - de continuar. Eu sou bailarina e professora por vocação. Desde que me lembro sempre foi o "meu sonho" ser bailarina. E sempre me vi a fazer isso. A vontade de ser professora veio mais tarde, já em adulta, com a necessidade de querer passar os meus conhecimentos e experiência a quem me procura. Percebi, cedo na vida, que não seria feliz nem realizada se, pelo menos, não tentasse seguir a minha vocação. Com coragem, determinação e muita "fé", arrisquei. E depois de tantos anos, apesar de tudo, continua a fazer-me sentido. E, quando algo é tão natural e intrínseco a nós, é difícil ignorar e, largar. Com isto, não quero dizer que foi ou é fácil. E hoje, digo: preferia não ter esta vocação... preferia ter tido a vocação para ser médica, ou advogada, ou até arquitecta... tudo teria sido tão mais fácil. Tão mais aceite. E tão mais reconhecido...

Diário de Uma Professora de Dança Oriental - #aula12

 Querido Diário: E, num “piscar de olhos” chegou a #aula12: última do 1º trimestre da época 24/25 e, também última deste ano 2024. E de tão descontraída, esta aula foi 5 estrelas... rimos, falámos, brincámos, desejámos as boas festas e claro... dançámos. Ao som de mais umas músicas de Natal, disfrutámos também da pequena coreografia sequencial onde trabalhámos - bastante para sedimentar - a técnica do tema deste último trimestre. Gosto de finalizar etapas. Encerrar ciclos para dar espaço a novos. Vem agora novo ano, novo trimestre e com eles novas etapas, aulas, desafios e superações. Acompanhada pelas alunas mais belas, tudo será mais... aconchegante e, embora ainda não tenha lido nenhuma previsão astrológica para 2025, disto eu tenho a certeza: Nada como um círculo fiel de mulheres para nos apoiar e alavancar. Se juntarmos a ele o ingrediente Dança então... o nível e poder desse círculo é outro.   E assim me despeço: Até para o Ano! Que neste caso é o mesmo q...

Diário de Uma Professora de Dança Oriental - #aula11

Querido Diário: Nesta altura, com este frio, custa iniciar qualquer actividade física... E, a Dança Oriental, com raiz nos países do Médio Oriente onde o calor é rei, custa a adaptar-se às temperaturas próprias desta época no nosso país. Nas aulas, agora, calçamos meias (várias), perneiras, leggins mais grossas e os tops passam a camisolas. Mas, à medida que a aula avança, vamos também despindo todas essas camadas. Porque dançar aquece. Não só o corpo mas, também, a Alma. E aquele frio do início rapidamente dá lugar a um calorzinho reconfortante. É muito bom sentir esta dinâmica. Acredito (e sei) que não aconteça só com a dança, mas, com toda a actividade física. Custa “arrancar” mas depois, sabe mesmo bem.   E assim foi uma aula... diria... 4 estrelas. Só não foi cinco estrelas porque o calorzinho  gerado durou só... uma hora... a hora da aula .