A Vida ás vezes traz-nos surpresas que
nunca imaginamos nem nos nossos sonhos mais ousados.
Para mim, durante muitos anos, a dança
resumia-se a uma única modalidade: o Ballet. E foi precisamente no último ano
que fiz ballet e que iria desistir de dançar, que de repente ouvi uma música
diferente...
Eu era recepcionista na escola de dança
que frequentava: Academia de Dança de Lisboa (que infelizmente já não existe), e
reparei, que nesse ano lectivo (Setembro de 2001) ia haver uma nova modalidade:
Dança Oriental. Nunca tinha ouvido falar em semelhante dança, juro que não
fazia ideia do que se tratava e só pelo nome não me suscitava nenhum interesse.
Aconteceu que numa das vezes que estava na recepção, sem fazer quase nada,
começou uma aulas da tal dança e oiço a música. Foi magia! Aquela melodia
entrou em mim como um suspiro que fez com que acordasse de um sono profundo.
Não sei explicar, mas aquele tipo de música era-me familiar, e ressuscitou-me
de tal maneira que fui espreitar a aula.
Claro que passar de espectador a
praticante foi um passo. Comecei as aulas logo de seguida e tinha assim
começado uma nova era na minha vida. Não fazia a mais pequena ideia do quanto
me iria mudar e influenciar.
As primeiras aulas foram dramáticas.
Parecia sei lá o quê a dançar, era um cubo de gelo e mesmo com 16 anos de dança
não conseguia fazer praticamente nenhum movimento digno de Dança Oriental.
Conseguia imitar bem a professora, até tinha coordenação, mas detestava ver o
efeito quando me via ao espelho (é-vos familiar esta sensação?) sentia-me
gorda, mal feita, feia, sem jeito nenhum. Mas não desistia, havia qualquer coisa
divina que me mantinha nas aulas e acho que sempre foi a música. Adorava (e
adoro) música árabe...
Lá fui continuando as aulas (mantendo as
aulas de ballet ao mesmo tempo) e nelas fui-me obrigando a realmente ver-me no
espelho, não só olhar, mas Ver-me. Á medida que ia aprendendo e fazendo os
movimentos mais básicos da Dança Oriental, ia-me sentindo. E aos poucos fui
percebendo que já não era assim tão má a figura que fazia, afinal não estava
assim tão gorda, não estava assim tão feia, até é bem bonito estes movimentos
em mim... fui-me apercebendo do incrível corpo que tinha, o quanto era bela, e
o quanto é fascinante dançar.
Curiosamente, tantos anos de dança
clássica e eu nunca tinha realmente dançado. Fazia exercícios, passos de dança,
executava lindamente coreografias, mas dançar!? Foi nas aulas de Dança Oriental
que comecei a dançar, sentir a música, expressar-me através daqueles movimentos
tão simples mas complexos que, devido á carga energética que continham,
"obrigaram-me" a desabrochar como uma flor na Primavera. Mas se
pensam que este processo durou umas aulas, não, durou mais de um ano e esse
desabrochar continuou e após 8 anos ainda continua... E foi precisamente nesse
ano, que tinha o meu mais difícil exame de ballet (Junho de 2002), onde iriam
avaliar a nossa capacidade de transmitir não só a técnica mas também Arte, que
eu o "patinho feio", através do trabalho interno que a dança oriental
me fez, consegui transmitir mais que um mero exercício, consegui transmitir
dança, o que me fez passar no tal exame.
Por isso digo a todas as alunas: a Dança
Oriental escolhe cada uma de vocês, não é por acaso que estão a praticá-la,
muitas de vocês nem sabem bem o porquê que gostam tanto. Não quer dizer que
todas tenham de ser bailarinas profissionais como eu, não! Isso é só para quem
tem esse "chamado", esse "dom" ou essa "missão"
nesta vida. A Dança Oriental escolheu-vos (como um dia escolheu a mim) pois
tiveram a sorte de ter a oportunidade na vida, de descobrirem as deusas e os
seres especiais que são. Se puserem de lado vaidades, egos, medos e comodismos,
irão perceber como esta dança dá-vos o poder de se transformarem em cisnes,
dá-vos força interior, faz-vos crescer espiritualmente, obriga-vos a dar um
sentido na vida. E o mágico de tudo isso é que se vai reflectir em tudo e em
todos que vos rodeiam.
Permitam-se mergulhar neste oceano, não
tenham medo de sentir ou aperceberem-se de certos aspectos negativos na vossa
vida que já se tinham resignado. Não! Saiam da vossa zona de conforto e
cegueira e permitam que a dança vos melhore, transforme, dê-vos qualidade de
vida interior.
Foi o que fiz, deixei-me levar para onde
a dança me quis e como a minha vida se transformou! Eu que era uma pessoa forte
mas insegura, que sentia mas não expressava de maneira nenhuma, que se tapava
toda por vergonha do seu corpo, o "pãozinho sem sal" como me chamavam
conseguiu ultrapassar todos os medos e mais alguns e aqui estou.
Parece um conto fantasioso, um processo
fácil e rápido, mas não é! Tem sido uma viagem extremamente difícil e muitas
vezes dolorosa mas digo-vos que vale a pena. Foi pela dança que consegui estar
onde estou e ser a pessoa que sou hoje. Mas o processo continua, ainda tenho
muito que desbloquear para que a minha dança se torne ainda melhor, mas principalmente,
o conhecimento de mim própria seja cada vez mais profundo e a minha Vida
progrida de dança para dança.
Como me revejo Sara... :) é isso tudo, a dança é o "meu" ritual de auto-superação constante! A unica coisa capaz de fazer com que me encarasse no espelho e aprendesse a valorizar-me (não vangloriar-me, mas a ser mais auto-consciente).
ResponderEliminarAprender que as vezes nos temos esquecidas!
A musica, essa, mesmo sem saber dançar, entra pelos ouvidos e sai pelos poros... e quando vejo alguem dançar, mas dançar mesmo, com amor, com entrega, isso é o melhor do mundo! Isso porque eu tambem ainda tenho um caminho longo pela frente para poder faze-lo em pleno, mas entretanto vejo-o nos outros... mas pronto, temos a vantagem de esta ser uma das poucas formas de dançar onde a idade pode ser uma mais-valia né? :)
Beijinhos e até breve numa qq aventura de dança por aí!
Patricia Ahmar