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Oriental Dance Festivals - My Experience - parte III

Não queria deixar de falar sobre a minha experiência com os Festivais no Cairo sem referir, especificamente, o que mais gostei neles: os espectáculos - o de abertura e, principalmente, o do encerramento. Escrevi, nos posts anteriores, que o espírito que senti nestes Festivais, dificilmente voltaria a encontrar. E, o ambiente que se criava nos espectáculos que lá aconteciam, muito menos. Estes eram algo majestoso, mas para mim em particular, muito inspirador. 

Havia actuações todos os dias do Festival, bem como nos Cursos Profissionais, mas o da abertura e o do encerramento eram especiais. Nestes, reuniam todas as participantes para assistir as bailarinas mais "sonantes". Aquelas que eu mais queria ver. E assistir ao vivo, com banda a tocar, é outra coisa... é não só inspirador como aprende-se muito. Eu adorava esses momentos. Aliás, adoro. Ali via como uma bailarina conseguia captar a atenção e entreter quase 5 mil pessoas. E, tenho que lembrar, não eram umas pessoas quaisquer... eram estudantes/bailarinos de todo o mundo incluindo mestres que eram ou tinham sido os seus professores. Não imagino a pressão e a responsabilidade nesses artistas... mas faziam magia.

Nestas actuações, que ficava doida para assistir, corria para perto do palco para ver bem. Nestas situações ia sim muito mais cedo para ficar na fila (cheguei a ficar horas) para entrar no salão onde iria decorrer o jantar seguido do espectáculo. Era uma guerra para conseguir bons lugares nas mesas espalhadas pelo salão. Relembro que não eram espetáculos realizados em auditórios, mas sim, no maior salão do hotel onde ficávamos. O palco era improvisado (e bem pequeno) e o publico ficava distribuído pelas mesas, tipo festa de casamento. O espectáculo propriamente dito, só acontecia muito depois do jantar... lá para a meia noite... e arrastava-se por vezes até 2/3 da manhã... mas valia muito a pena. No entretanto, enquanto jantavamos e esperavamos as "cabeças de cartaz" actuavam as que tinham ganho na competição, bailarinos de folclore e cantores. Que saudades tenho de ver um espectáculo assim. Sem grandes técnicas audiovisuais a que nos habituamos e exigimos aqui no ocidente, mas com uma verdade e com uma identidade difícil de explicar. Era variado, divertido e interactivo.

Eram autênticos, onde se via que a tal bailarina sonante, realmente, esforçava-se para fazer o seu melhor. Apresentavam-se com uma atitude muito diferente de quando actuam num casamento, espaço "turístico" ou de entretenimento. Ali, notava-se a preocupação delas em verdadeiramente dançarem e mostrarem (e provarem) porque é que merecem a atenção e admiração que lhes dão. E provavam. Vi Arte. Dança pura e dura. A identidade desta dança sem floreios. A dinâmica que a bailarina criava com o publico e o comando que geria com os músicos. E estes... a alegria e o orgulho que demonstravam em tocar para nós. O que eu aprendi naqueles espectáculos não tem preço... saia de lá com o coração cheio e com humildade. Eu era só uma miúda, que nada sabia comparado com estes "monstros" de palco.

Como já disse, dificilmente volto a assistir a algo assim. Não porque não haja qualidade nos Festivais por esse mundo fora. Há muito bons festivais e muito bons espetáculos. Mas o ambiente conta muito. E o contexto também. E aqueles Festivais, naquela altura específica, geraram muitos dos bailarinos que hoje criaram os seus próprios Festivais e levaram o que aprenderam para os seus países.

Ter participado neles foi das melhores decisões da minha vida, não só como bailarina, mas como pessoa também. Custou (muito) na carteira, mas foi dos melhores investimentos que fiz. Guardo lembranças para a Vida e experiências que me moldaram para ser quem sou hoje. Guardo também episódios caricatos que fizeram destas minhas viagens aventuras que irei contar aos meus netos!!! Sei que voltarei ao Cairo para fazer um curso que ando a "namorar" faz alguns anos... embora saiba que, a magnitude daqueles Festivais não vou encontrar. Mas vou à procura de outras coisas... afinal a dança, a Arte, é um "organismo" vivo e em constante transformação. Ansiosa pela próxima aventura...

Na foto: eu com a Madame Raqia Hassan - criadora do Festival "Ahlan Wa Sahlan" em 2009





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