Não queria deixar de falar sobre
a minha experiência com os Festivais no Cairo sem referir, especificamente, o
que mais gostei neles: os espectáculos - o de abertura e, principalmente, o do
encerramento. Escrevi, nos posts anteriores, que o espírito que senti nestes
Festivais, dificilmente voltaria a encontrar. E, o ambiente que se criava nos
espectáculos que lá aconteciam, muito menos. Estes eram algo majestoso, mas
para mim em particular, muito inspirador.
Havia actuações todos os dias
do Festival, bem como nos Cursos Profissionais, mas o da abertura e o do
encerramento eram especiais. Nestes, reuniam todas as participantes para assistir as bailarinas mais "sonantes". Aquelas que eu mais queria
ver. E assistir ao vivo, com banda a tocar, é outra coisa... é não só
inspirador como aprende-se muito. Eu adorava esses momentos. Aliás, adoro. Ali
via como uma bailarina conseguia captar a atenção e entreter quase 5 mil
pessoas. E, tenho que lembrar, não eram umas pessoas quaisquer... eram
estudantes/bailarinos de todo o mundo incluindo mestres que eram ou tinham sido
os seus professores. Não imagino a pressão e a responsabilidade nesses
artistas... mas faziam magia.
Nestas actuações, que ficava
doida para assistir, corria para perto do palco para ver bem. Nestas situações
ia sim muito mais cedo para ficar na fila (cheguei a ficar horas) para entrar
no salão onde iria decorrer o jantar seguido do espectáculo. Era uma guerra
para conseguir bons lugares nas mesas espalhadas pelo salão. Relembro que não
eram espetáculos realizados em auditórios, mas sim, no maior salão do hotel
onde ficávamos. O palco era improvisado (e bem pequeno) e o publico ficava distribuído
pelas mesas, tipo festa de casamento. O espectáculo propriamente dito, só
acontecia muito depois do jantar... lá para a meia noite... e arrastava-se por
vezes até 2/3 da manhã... mas valia muito a pena. No entretanto, enquanto jantavamos e esperavamos as "cabeças de cartaz" actuavam as que tinham ganho na competição, bailarinos de folclore e cantores. Que saudades tenho de ver
um espectáculo assim. Sem grandes técnicas audiovisuais a que nos habituamos e
exigimos aqui no ocidente, mas com uma verdade e com uma identidade difícil de
explicar. Era variado, divertido e interactivo.
Eram autênticos, onde se via
que a tal bailarina sonante, realmente, esforçava-se para fazer o seu melhor.
Apresentavam-se com uma atitude muito diferente de quando actuam num casamento, espaço
"turístico" ou de entretenimento. Ali, notava-se a preocupação delas
em verdadeiramente dançarem e mostrarem (e provarem) porque é que merecem a
atenção e admiração que lhes dão. E provavam. Vi Arte. Dança pura e dura. A
identidade desta dança sem floreios. A dinâmica que a bailarina criava com o
publico e o comando que geria com os músicos. E estes... a alegria e o orgulho que demonstravam em tocar para nós. O que eu aprendi naqueles espectáculos
não tem preço... saia de lá com o coração cheio e com humildade. Eu era só uma miúda,
que nada sabia comparado com estes "monstros" de palco.
Como já disse, dificilmente
volto a assistir a algo assim. Não porque não haja qualidade nos Festivais por
esse mundo fora. Há muito bons festivais e muito bons espetáculos. Mas o
ambiente conta muito. E o contexto também. E aqueles Festivais, naquela altura
específica, geraram muitos dos bailarinos que hoje criaram os seus próprios
Festivais e levaram o que aprenderam para os seus países.
Ter participado neles foi das
melhores decisões da minha vida, não só como bailarina, mas como pessoa também.
Custou (muito) na carteira, mas foi dos melhores investimentos que fiz. Guardo
lembranças para a Vida e experiências que me moldaram para ser quem sou hoje.
Guardo também episódios caricatos que fizeram destas minhas viagens aventuras
que irei contar aos meus netos!!! Sei que voltarei ao Cairo para fazer um curso que
ando a "namorar" faz alguns anos... embora saiba que, a magnitude
daqueles Festivais não vou encontrar. Mas vou à procura de outras coisas...
afinal a dança, a Arte, é um "organismo" vivo e em constante transformação.
Ansiosa pela próxima aventura...
Na foto: eu com a Madame Raqia Hassan - criadora do Festival "Ahlan Wa Sahlan" em 2009
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