É difícil ser bailarino.
É muito difícil ser bailarino no nosso país.
É muito, muito difícil ser bailarino de D. O.
É muito, muito, muito difícil ser bailarino de Dança Oriental no nosso país... e no mundo.
Antes, hoje e desconfio, no futuro.
Porquê?
Porque a nossa era (e eras passadas, se analisarmos a História da D.O.) não está preparada para o potencial da D.O.
Porque o preconceito continua de era para era, de sociedade para sociedade, de geração para geração. E, atrevo-me a dizer, de bailarino para bailarino, de professor para aluno, de público para bailarino...
Porque muitos (bastantes até) de nós - bailarinos, alunos, amadores, curiosos - trabalhamos com D.O. e não PARA a D.O. Servimo-nos, mas não dignificamos. Perpetuamos, talvez sem dar conta, comportamentos que deturparam completamente a verdade da D.O.
Porque a D.O. mexe com o feminino. O mais íntimo do que é ser Mulher. Conceito que está, ainda, perdido. Fechado. Atrofiado. Deturpado.
Porque um bailarino de D.O. tem um vocabulário técnico para adquirir e trabalhá-lo, mas tem um processo emocional para descomprimir e um mental para desconstruir. Tudo em simultâneo.
Porque ainda tem de lutar por um lugar de respeito não só entre as outras danças como no mundo do espectáculo.
Porque o público consome sim, mas não aprecia como outras Artes ou outras Danças.
Porque o caminho de um bailarino apresenta-se dourado, mas não é facilitado.
Porque hoje em dia, há mais ferramentas para conhecer, aprender e mais onde ver. Mas não significa que haja mais qualidade.
Porque hoje em dia, há muitos bailarinos e excelentes professores. Músicas lindas e espectáculos extraordinários. A técnica nunca esteve tão desenvolvida. Mas, a essência da D.O.? Mantêm-se como noutros tempos? Ou está - ou continua - camuflada pelo poder masculinizado que sempre houve no mercado de D.O.?...
Não acredito num caminho fácil, seja no que for. O de ser bailarino de D.O. continua desafiante e só alguns pagam para ver. A grande parte recua pelo caminho ou nem sequer o inicia. Porque sim, é duro, e é mais fácil desistir.
A minha geração de bailarinas lutou - sozinha - para abrir um caminho. Contávamos somente com o nosso talento e garra. Tínhamos sonhos e uma inexplicável paixão pela Dança Oriental. Hoje, está implantada não só no nosso país como no mundo mas continuo a não vê-la no estatuto que merece. O caminho está escancarado para a nova geração mas, talvez, com valores invertidos e com pouca etiqueta. A estética está sobrevalorizada. As modas ditam regras. Surgiu a competição como um modo de superação. Hoje, pagas para aparecer. Hoje, danças mais na net que no palco. Hoje, a concorrência não é só com a colega do lado mas com o mundo inteiro.
Saber tirar vantagem de tudo que dispomos hoje em dia é ouro. Mas talvez esse saber venha com a maturidade. Saber escolher. Saber o que nos serve. Saber ir procurar. Saber pensar para depois dançar melhor. Hoje, acho que um bailarino tem de saber triar. Saber dizer Não. Saber partilhar e ensinar. Não basta só ter vontade, tem de respirar dança. Dominar muito mais do que uns movimentos. Tem de dominar tudo que envolve SER bailarino desde a sua constante aprendizagem técnica, à sua promoção, à angariação de público e trabalho. Tem mais meios para se desenvolver. Tem mais apoio. Mais ferramentas. Mais caminhos. Mais mentores e mais companhia. Mas mais fácil?... Isso nunca será.
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