As infinitas horas que
passo a promover e a arranjar trabalho.
Só para deixar bem definido: Eu sou bailarina. Mas não uma
bailarina incluída numa companhia de dança. Sou bailarina freelancer. Não tenho
agente, empresa ou assistente, ou seja, sou eu que me represento, promovo,
agencio, angario e gere. E é grande, ou melhor, a maior parte do meu tempo é a
fazer isso mesmo: trabalhar 1000% para conseguir 10% de dança propriamente
dita.
As pessoas não sabem o trabalho que dá, nos dias de hoje, ser
bailarina a freelancer. E digo nos dias de hoje porque há quase 20 anos atras,
nos meus primeiros anos profissionais, não precisava de estar tanto tempo em
frente a um pc ou agarrada às redes para conseguir onde dançar e para quem
ensinar. Era mais simples. Talvez mais eficaz. Agora, trabalho muito mais na
net que no palco. Ensino mais online que no estúdio. Tornou-se obrigatório
estar na rede, coisa que há uns anos atrás era opcional. E isso consome horas
do meu dia e muitas vezes partes da noite. E não. Não é entusiasmante.
Sinceramente, houve um tempo que recusei-me a entrar nesta espirar
virtual. Não queria "perder" tempo sentada a uma secretária ou ter um
telemóvel de última geração. Mas, percebi, que hoje são ferramentas
fundamentais para uma bailarina como são as suas sapatilhas. O desafio está no equilíbrio,
porque não deixo de ser bailarina e o que gosto mesmo de fazer é Dançar,
Ensinar, Partilhar, Motivar e Inspirar OLHOS nos OLHOS. Não - só - atrás de um
pc ou de tlm para centenas de seguidores… virtuais.
Todo o trabalho virtual, de gestão de redes sociais, de
actualização das plataformas online, o facto de estar "ligada" nas
dezenas grupos das mais variadas aplicações faz com que esteja SEMPRE a
trabalhar. Porque sim, pessoal, não é lazer... é trabalho, para poder ter
trabalho. Porque eu gero o meu próprio trabalho. E gerar trabalho consome...
Tudo é estruturado, pensado, estudado e não tenho ninguém a ensinar-me ou a
orientar. Sou eu que faço TUDO. Consome sim... horas e horas de mim, da minha
energia, da minha criatividade, do meu pensamento.
Não me estou a queixar. Faz parte. Eu sei. Eu escolhi que assim fosse. Mas hoje, curiosamente, "descanso" e quase - quase - que o meu lazer é dar aulas, treinar ou dançar. Como tudo se inverteu... comecei, para conseguir alunas, a distribuir panfletos nas caixas de correios nos prédios perto do estúdio onde dava aulas. 90% do trabalho que tive nessa altura foi graças a esses mesmos panfletos que duravam meses. Agora um post tem a duração de umas horas na selva que é a net... e isso sim é exaustivo e para mim, que gosto é de presença, é o que menos me entusiasma no meu trabalho de sonho. Porque apesar de tudo, eu vivo o meu sonho.
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