Avançar para o conteúdo principal

Talvez tenha recebido uma missão...


Hoje tenho mais um show, aberto para quem quiser assistir em mais um bar árabe (no Al-Sahara em Santos). Estranho o rumo que as nossas carreiras por vezes tomam.

Está cada vez mais está na "moda" abrirem bares/salões de chá com temáticas árabes e como é da praxe há sempre uma bailarina sextas e sábados para "animar" a noite que prometem ser exótica...

Este tipo de bares surgiram á meia dúzia de anos atrás e na altura eram só uns dois ou três, agora entopem a minha caixa de mail com publicidade, parece que abre um novo todos os meses e todos prometem que lá é que têm o melhor chá, cachimbo de água, a bailarina do momento...

Confesso que nunca me interessou dançar nestes espaços. Sempre achei que não cobriam os meus requisitos mínimos para poder dançar (lembro que dançar não é só demonstrar movimentos uns atrás dos outros, é fazer Arte e acredito que a arte tem de estar inserida num determinado contexto senão fica sem sentido e o que mais detesto é "dar pérolas a porcos"). Estes espaços criam um ambiente que não me agrada particularmente e acho que não são propícios á pratica de demonstrar dança com todo o seu valor. Mas, por vezes temos de nos render ás "modas" e experimentar novos desafios. Se eles vêem ter comigo, porque não enfrentá-los, eles vêem por algum propósito, assim eu acredito.

Se, muitas "bailarinas" ficam em êxtase quando vão executar as suas performances (não uso o termo dançar, pois são muito poucas as que realmente Dançam) nestes bares e acham que estam a realizar grandes apresentações, e são as melhores do mundo, só porque tal individuo esteve a olhar atentamente, não a sua performance mas o seu generoso decote nada disfarçado por um soutien ainda menos disfarçado (já vi trajes de supostas bailarinas que "Meu Deus!" não tenho palavras para descrever o mau gosto e falta de, muitas vezes, vergonha na cara). Para mim, dançar nestes locais torna-se uma missão (se calhar uma missão utópica) de quem estiver a ver-me, VER Dança Oriental. Não fusões, tribalismos, espécies de danças exóticas que infelizmente, colocam tudo no grande saco da Dança Oriental, mas vejam Dança Árabe na sua mais pura e exacta versão. Pretendo que o público que está ali esteja, que supostamente sabe que vai ver Dança Oriental, veja para além do decote, pernas, ventre, lantejoulas, sei que praticamente impossível que não reparem nisso, tanto homens como mulheres, mas não quero que fiquem por aí, quero sim que vejam Arte, quase como se estivessem numa sala de espectáculos a assistir a um espectáculo, que realmente se deliciem com o show, por mais simples que seja e que saiam a dizer: "gostei da bailarina, encantou-me a sua dança, afinal a dança do ventre ( como é vulgarmente chamada) é diferente do que imaginava" e não: "gostei das pernas dela, ela era bem gira"... (para não dizer outros termos).
Dir-me-ão: isso é impossível, ali querem ver é meninas bonitas, com tudo no sítio, querem lá saber da dança...
Não creio que seja impossível, acredito que cabe a nós bailarinas "educar" mentalidades, se calhar sou sonhadora demais, mas este é o meu desejo!
Já que são estes espaços que promovem, grande parte, a Dança Oriental neste país, então quem for a um bar porque também quer ver dança, assista a boa Dança e não só um show de vaidades e exotismos.

Quero marcar a diferença e mudar (pre)conceitos será que consigo?! Pelo menos vou tentar...

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Diário de Uma Professora de Dança Oriental - #aula22

 Querido Diário: Se há coisa que me deixa mesmo irritada, é quando acontecem imprevistos de última hora que comprometem condições mínimas para dar uma aula. E, na #aula22, isso aconteceu. Minutos antes de “me ligar”, a câmara decide não colaborar e não conecta para seguir o online. Fico possessa. Se há coisa me desorienta profundamente é algo que não domino ou controlo e a tecnologia , sempre foi o meu “calcanhar de Aquiles”. Respiro fundo. Rapidamente percebo que não vale a pena contrariar o que não controlo. E, faço o que faço sempre: passo para o improviso. O importante é seguir com a aula -The Show Must Go On - com o que tiver à disposição. Resolvo o melhor que consigo e a aula segue. Mas, a irritação permanece ainda mais um pouco... detesto dar aula assim: stressada e irritada... Gosto de usufruir e dar o meu melhor àquelas alunas que tiram do seu tempo para aprender comigo e ontem, não consegui  melhor... E por isso, senti que foi uma aula 2 es...

Diário de Uma Professora de Dança Oriental - #aula21

 Querido Diário: A aula desta semana teve sabor a Carnaval e com um pouquinho de “samba no pé”. Aconteceu logo pela manhã e que bem que soube! Poder acordar com calma e começar o dia a dançar é um luxo. Nem todos podem e nem todos querem... Confesso que sou uma pessoa noturna, mas, forço-me a fazer algum exercício regular pela manhã e sempre que é possível, dou também aulas. Ao início custou-me, mas depois, habituei-me. Não só desperta o corpo, mas, e principalmente, alimenta (e bem) a alma. Sinto que fico nutrida para o resto do dia, com mais energia, com melhor humor e sem sentir tanto dramatismo. Dançar pode não curar depressões, mas (e disto tenho a certeza) Alivia, Descomprime, Descomplica. Dá outra perspetiva . Mostra que é possível superar Dor, Desanimo, Solidão.   Dançar pode funcionar como antidepressivo natural que está ao alcance de todos. Usa e Abusa. Seja de manhã, à tarde ou à noite. Samba ou Dança Oriental... o importante é Dan...

Diário de Uma Professora de Dança Oriental - #aula24

  Querido Diário: E, depois da tempestade, a Primavera - finalmente - apareceu. Estou ansiosa pela mudança da hora para a aula acontecer ainda com luz. Adoro dançar ao anoitecer com o pôr do sol como pano de fundo. Dá outra energia e renova a disposição. Porque #aula23 começou com neura... sem ver “luz ao fundo do túnel” e a tomar decisões minutos antes que custam mas têm de ser feitas. Toda a mudança de ciclo é dolorosa. Mas, o não saber o que virá... é pior ainda. São nestes momentos em que minha mente está sobrecarregada a fazer muito barulho e que só me apetece “desligar” que me disciplino a manter a rotina de treino físico e, claro - porque há também um compromisso - as aulas que dou. As alunas merecem o meu melhor, independentemente das “neuras” da vida. Mas, é aqui que a Dança faz a sua magia. Sei, por experiência de outras fases que, até pode custar - muito - começar, mas depois a Dança faz o seu trabalho terapêutico em nós. Não que nos resolva os problemas, m...