Avançar para o conteúdo principal

Mais um balde de água fria II

Acho que vou criar um blog intitulado: "As crónicas dos baldinhos". Não posso deixar de vos contar a última que me aconteceu, assim, conto com os vossos comentários afim de me ajudarem a perceber se estou a ficar maluca ou o mundo é que está a enlouquecer.
Estava eu descansadinha a entrar para o cinema (recomendo o filme "Distrito 9"), dia 26 de Setembro sábado - depois vão perceber o porquê das datas - quando o telemóvel toca. Não atendo pois o filme ia começar, mas quando houve o intervalo fui ouvir a mensagem que me deixaram no voicemail, e dizia (voz de homem): "Olá, queria propor-lhe um trabalho, vou enviar-lhe um mail para adiantar do que se trata."
Fiquei curiosa, e no dia seguinte, pois nesse sábado tinha chegado muito tarde, fui ler o mail. Era uma proposta para dançar em duas feiras árabes/islâmicas, uma cá em Portugal já no fim-de-semana a seguir (3 e 4 de Outubro), outra em Espanha no fim-de-semana seguinte. Fiquei bastante entusiasmada pois este tipo de trabalho é cansativo mas muito divertido. Respondo pedindo que me ligassem segunda feira, afim de perceber melhor todo o trabalho antes de aceitar ou não.
Chega segunda feira e liga-me o tal senhor, falamos sobre a proposta, coloco todas as minhas questões (antes de aceitar qualquer trabalho gosto de saber todas as condições que me oferecem e eu digo as minhas) achei bem tudo, até o cachêt que me propunham (desta vez impuseram-me um determinado valor) e aceitei. Ficou combinado ir dançar na feira cá em Portugal e a Espanha, concluímos a conversa com ele a dizer: " logo que tiver mais informações ligo-lhe para combinarmos horários e outros pormenores."
E fiquei á espera... terça... quarta... quinta... sexta já estando a preparar trajes, adereços, mala, etc, comecei a achar muito estranho não me ligarem a confirmar e informar onde tinha de ir ter, a que horas e se era preciso mais alguma coisa da minha parte. Eu tinha de ir no dia a seguir e não sabia de mais nada desde o telefonema de segunda feira anterior.
Já impaciente, por volta da 13h, resolvo ligar-lhes, não atendem. O meu instinto já dava sinal que havia qualquer coisa errada. Passado mais ou menos uma hora, ligo de novo, já pressentindo que algo não estava bem, mas acredito sempre que as pessoas são sérias e se não me deram as informações logo foi porque por alguma razão não puderam. Atendem finalmente, e digo-lhe: "olá! preciso de saber o local e as horas que precisa que eu esteja aí" (eles já lá estavam na feira a montar tendas e outros cenários) e responde-me: "ah... olá sara... como está... sabe surgiu uma confusão..." Eu comecei a revirar os olhos... " o meu sócio sem eu saber já se tinha comprometido com outra bailarina antes de eu falar consigo." E pensei eu - o quê???? e digo-lhe já com uma voz irritada: "mas quer que eu vá ou não?", pensei para comigo que por mim não há problema que haja mais bailarinas... e ele tem a "lata" - já vão perceber o porquê deste adjectivo - de me responder: "sim, sim, eu quero que venha, mas sabe, o orçamento que dispomos não dá para ter duas bailarinas, eu estou a ver se consigo com o presidente daqui, que ele pague uma parte. Dê-me até ás cinco da tarde e já lhe dou uma resposta". Eu, mesmo assim, acreditando que as pessoas são minimamente sérias digo: "então fico á espera" eram mais ou menos 14h30.
Passa as três... as quatro... as cinco... as seis... e ás sete horas, e nada de me telefonarem. Já completamente passada, resolvo mais uma vez, ser eu a ligar para saber como era. Não atende! Deixo passar mais meia hora e ligo de novo, lá têm a gentileza de atender: "ah... sara..." e digo-lhe já numa voz que ele deve ter imaginado a minha cara " então????" e diz-me aquilo que já calculava: "olhe infelizmente fica a sua vinda sem efeito..." claro que já sabia que seria essa resposta, mas queria ouvi-la da voz de quem me tinha "contratado". Fiquei tão irritada, que a falar com ele comecei a ficar rouca dos nervos. Enquanto se desfazia em desculpas falsas e explicações esfarrapadas, disse-lhe algumas, mas mesmo assim tento não descer do meu nível de educação e como sou uma incurável optimista, respiro fundo e ainda pergunto: "e para o outro fim-de-semana em Espanha, sempre quer que eu vá?" E diz-me: " em principio sim, mas terça feira (esta última que passou) ligo-lhe para falarmos melhor".
Até hoje estou á espera do telefonema...

Quis contar-vos mais este caricato episódio, para, como disse no início, me digam se será que estou a ficar maluquinha ou as pessoas estão a perder completamente o respeito e a consideração umas pelas outras?
Por favor, digam-me: fiz alguma coisa de errado? Ou será que as bailarinas neste país (e no mundo) não merecem respeito pelo seu trabalho? Somos assim tão descartáveis ao ponto de não sermos levadas a sério e de não terem mínima consideração, de pelo menos avisar que afinal já não vão precisar dos nossos serviços? Pelo menos da outra vez - no texto Mais um balde de água fria - ainda enviaram uma mensagem, desta vez, tive eu de perceber que afinal já não ia dançar! Será que pensam que não tenho mais nada que fazer? Se danço danço, se não danço também não faz mal? Não sou confiável? Será que pensaram que se não dissessem nada eu também não iria perguntar, nem aparecer?
Ainda por cima, tive uma outra proposta para ir dançar noutro evento nesse mesmo fim-de-semana, e recusei pois já estava comprometida com os que me deram a balda! Mereço, não mereço?
Sei que tive um ataque de choro pela raiva que estava a sentir. Detesto saber que fui gozada, desrespeitada como pessoa e bailarina, mas sei que infelizmente tenho de levar com pessoas e empresas deste tipo. Felizmente não são todos assim, mas assusta-me o crescimento da falta de consideração que há pela seriedade das bailarinas, o pensarem que se não for uma é outra, e não interessa a qualidade, experiência e dedicação.
E agora pergunto-vos: de quem é a culpa? De nós, bailarinas, que muitas passam uma atitude muito pouco profissional, e infelizmente por umas pagam as outras, ou as entidades/pessoas que nos contratam, que generalizam e pensam que são todas iguais?
Dá que pensar...

Comentários

  1. Sabes... Eu acho que o problema não é convosco, bailarinas, mas sim com essas pessoas! Infelizmente cada vez mais as pessoas não têm respeito por ninguém!! E não são capazes de admitir que erraram ou que fizeram M&$%#!! E escondem-se cada vez que isso acontece em vez de enfrentarem os problemas! É triste para onde isto vai... porque essas pessoas têm filhos e ensinam-nos assim.... :(

    Beijinhos

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Mensagens populares deste blogue

Afinal o que é ser humilde...

As bailarinas ouvem muitas vezes a palavra humildade, que temos de ser, viver e actuar com humildade. Concordo plenamente... Mas o que é humildade? E quem é que pode dizer a outro tu és e tu não és humilde? Socialmente uma pessoa humilde não ostenta riqueza nem vaidade, procura ser útil mas discreto e pede ajuda fazendo questão de dizer que não sabe tudo. Que pessoa humilde seria esta! E quase perfeita... Lamento desiludir, mas não tenho todas essas características! Sou humana, tenho defeitos e muitos... como todos vocês! Para mim, humildade é um valor que se adquire logo na infância e se desenvolve ao longo da vida. Mas acho que há vários graus e muitíssimas definições de humildade. O que pode ser para mim uma acção humilde para outro é algo bem diferente. Quantas vezes agimos ou dizemos algo que pensamos, que é natural aos nossos olhos, mas somos logo julgados: "Não és nada, humilde!" Penso: como bailarina, posso ser humilde? Vocês dir-me-ão: Claro! Tens mais é que ser h

Então, o que basta?

Desde que me lembro, oiço dizer que, para dançar é preciso gostar mesmo. Ter Amor, Paixão pela Arte da Dança. Concordo. Cresci a ouvir isto. Mas, basta?...  Hoje, depois de tantos anos dedicados à Dança, eu acho - melhor, tenho a certeza - que não.  Então, o que basta?... Sinceramente?!... Tudo. Danço desde sempre. E desde sempre, o meu Amor pela Dança impulsionou-me a continuar. Foi assim com a minha primeira paixão: o ballet e que continuou para a Dança Oriental onde foi "Amor à primeira vista." Tal como num casamento, a paixão inicial transforma-se num Amor. Amor este que se tornou profundo, amadurecido e, também calejado.  Manter uma relação, não é fácil nem romântica como se idealiza, muito menos incondicional. É necessário esforço, dedicação, responsabilidade, sentido e condições. Definitivamente, só o Amor não basta. Na Dança, sinto que é igual. É uma relação entre a bailarina e a sua arte. Há que investir nesta relação para que o Amor - base fundamental SIM - não fiqu

Outro pecado, defeito ou talvez virtude

Não consigo ser hipócrita e cínica. Danço aquilo que sinto... e não há volta a dar. Por mais que tente, não consigo, fingir que estou alegre quando estou triste, gostar quando não gosto, rir quando me apetece chorar, mentir quando me quero dizer umas verdades. Sinceramente até hoje não sei se isto é uma virtude ou defeito. Ao longo da minha vida poucas não foram as situações em que se tivesse sido hipócrita tinha ganho mais, em que se o cinismo falasse mais alto tinha evitado inúmeras "saias justas". Muitas vezes a minha mãe e até marido dizem-me que não posso ser tão directa em certas situações, que às vezes a minha antipatia com quem não gosto é-me prejudicial. Dizem-me "finge" e eu respondo "é pá, não consigo" e não dá mesmo! Confesso que alguns comentários que dou, resposta impulsivas, atitudes de mau humor caem-me mal e transpareço uma brutalidade que não é totalmente verdadeira. Quem não me conhece fica a pensar que sou arrogante, antipática, conven