Cresci com aulas de dança. No meio de tutus e sapatilhas. Com a música do piano de fundo. Sempre que podia, "enfiava-me" num estúdio, assistia às aulas das mais velhas, escapava-me para o palco. Absorvia cada minuto. Observava cada segundo. Queria sempre superar-me. Fazer melhor. Ser a melhor. Cada aula, era uma oportunidade. De praticar, evoluir e aprender mais técnica. Era obcecada pela técnica de ballet. Sabia que, para dançar bem precisava de técnica. Mas rápido percebi o que realmente impacta.
Foi num exame de ballet - que
tinha no final de cada ano para passar de grau - que o "click" se
deu. Tive a maior nota numa dança que tínhamos de apresentar à examinadora. Era
uma performance individual e tinha-me "esfalfado" a treiná-la.
Sabia-a de "cor e salteado," mas tecnicamente não estava perfeito...
eu sabia disso, a professora aconselhou-me a desistir dela e fazer a outra do
currículo. Mas não quis. Senti que que era aquela. E porquê? Porque a música
dessa dança... arrepiava-me. Falava comigo. E sempre que a ouvia, tocava a minha
alma. Decidi - por minha conta e risco - dançá-la. FUI. E no momento, onde só
estava eu e a examinadora, a magia aconteceu. Impactei. Não (só) com a minha
técnica, mas com a minha alma de bailarina que deixei surgir, talvez, pela
primeira vez. Tinha 16 anos.
Levei essa lição para a Vida. E
claro, para a Dança Oriental. Porque por mais que tenhamos, pratiquemos e
adquirimos técnica - e atenção: ela é importantíssima, pois é ela que
caracteriza o estilo de dança que fazemos - esta não passa de uma ferramenta
para fazer sobressair o melhor de ti. Tal como um escritor. Todos eles sabem como
escrever mas nem todos sabem o que escrever. E só alguns encantam com a sua escrita. Uma bailarina, impacta, porque não
só sabe como dançar, mas e principalmente, ela sabe O que dançar. Porque
traduzir no corpo o que sentimos... é preciso muito mais que técnica. É preciso
querer. E querer Impactar.
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