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O Tabu do Corpo Feminino - Parte II

Quando comecei a praticar Dança Oriental, "há quase um século atrás", deparei-me com dois preconceitos que o público em geral tinha (e muitos ainda têm) em relação à D.O:

1º - alguns movimentos (quase todos) eram encarados como muito sexuais;

2º - dançam muito despidas - barriga à mostra, de sutiã e uma saia...

Rápido percebi o escândalo que eram estas duas conjunções: dançar meio despida com movimentos considerados demasiado sensuais. Não podia ser... ou era um ou era outro... os dois juntos ainda por cima com uma música esquisita lá do oriente... OMG!... Escândalo Total!

Até hoje não entendo, a meu ver, qual é a obsessão que há pelo corpo feminino. Porque é que o corpo, ou partes dele, nu de uma mulher é motivo de julgamento? Será que uma mulher é mesmo livre de mostrar o seu corpo sem consequências? Não tenho respostas... só sinto que nesta questão ainda há muito para evoluir ou, talvez, respeitar. Vivemos com legados machistas fortes que teimam a ficar e pior, a serem perpetuados também por mulheres. O nu feminino ou é motivo de exaltação máxima da beleza humana ou o motivo do grande pecado e do mal do mundo. Uma mulher, quando mostra a sua pele, nunca é indiferente. Provoca sempre alguma coisa... 

Eu vou ser sincera, eu nunca me senti à vontade para me mostrar. Não por vergonha, mas porque acho que há intimidade minha que não é para ser mostrada em qualquer ocasião ou só porque sim. Sempre considerei esta dança como sagrada, que enaltece o sagrado feminino e o nosso corpo. E é aqui, um desses raros momentos, que não me importo de me mostrar. A minha pele. O meu corpo nu em movimento. Porque a dança assim o pede e faz sentido. Mas gosto de me resguardar. Mesmo a dançar. Para mim, tem de haver um equilíbrio para não deixar que o meu corpo fale mais alto que a minha dança. Mas isso sou eu. Que uso o corpo para dançar e não a dança para exibir o meu corpo. 

A Dança Oriental é especificamente, ao contrário de outras danças onde elas até estão mais "despidas", julgada como algo inferior ou até mesmo vulgar. Senti muito isso, principalmente quando comecei como bailarina profissional. Nesse início não entendia o porquê, mas com o passar os anos e depois de ter ido ao Egipto a primeira vez, é que percebi que o "problema" não estava na bailarina ou na indumentária e muito menos na dança em si, mas nas mentes de quem via. Entendi que o nu era (e é) algo ainda complicado de digerir para a maioria. E a Dança Oriental toca (ainda) no imaginário fantasioso de muita gente…

Acredito que a Dança Oriental através do Corpo Feminino veio nesta Era, dar mais significado ao o que é SER MULHER e não é por acaso que está espalhada por todo o mundo e a ser praticada por milhares de mulheres e... homens. Usemos os nossos corpos para exibir Arte e a nossa pele inspirar Dança. Talvez assim, o nu deixe de ser um tabu.






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