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A mostrar mensagens de novembro, 2020

Pergunta 10 - Em todo o teu percurso, oque mais te incomoda?

 Que, vezes sem conta, tenham tentado "sabotar" a minha essência. Passo a explicar: eu desde muito, mesmo muito nova, sabia o que queria fazer. Queria ser bailarina. Sempre o soube. E, sempre o verbalizei. E sempre me tentaram dissuadir dessa ideia. Desde pequena. Ouvia: isso não é profissão; isso é só para alguns; não tens corpo para isso; tens é de estudar; isso não é nada; como assim bailarina?; isso depois passa-lhe; não tens talento; podes dançar desde que faças outra coisa... outra coisa séria; não consegues ir longe com a DO; não te metas no meu caminho que eu esmago-te; ensinar...?; talvez só nível iniciado, mais não consegues. E muito mais... teria aqui uma lista infinita. Sim. Durante toda a minha vida não acreditaram que tinha nascido artista, bailarina de essência. Podia aprender a dançar e actuar mas,... desde que... ouvi de tudo. O que mais me custa é ouvir da minha família. Sim, nunca gostaram. Acabaram por respeitar "esta minha estranha forma de vida...

Pergunta 9 - Depois de teres sido mãe, o que mudou como bailarina?

Tudo e Nada... O que mudou foi a minha mente. As minhas prioridades. O meu tempo. A minha disponibilidade. Física ou tecnicamente nada mudou. Não fui daquelas mulheres que adorou estar gravida, nem daquelas bailarinas que amou dançar com um barrigão. Pelo contrário... resguardei-me porque aquele estado, aquele bébé que se gerava era meu. Só meu. Não quis partilha-lo dançando. Dei aulas sim até ao 7 mês e posso dizer que havia movimentos que notava ou melhor, sentia, que ela não gostava. Ela não gostava que me mexesse muito... incomodava-a. Actuações fiz só uma, estava quase de quatro meses... foi bom... mas senti que não ousava, não estava completamente entregue aquela dança e aquela atuação. Foi aí que decidi que queria resguardar-me. Depois do parto, tive de me dar tempo. Ter um filho é duro. E para bailarinas ainda mais. Há uma cura física que demora e nessa altura, pensei mesmo que nunca mais conseguiria dançar... não sentia o meu ventre como antes... os movimentos não fluíam.....

Pergunta 8 - O que mais te entusiasma no teu trabalho?

 A infinita possibilidade e a total liberdade para criar. Nasci artista. A criatividade é-me inata. Adoro o processo de criação. Seja no que for. Ideias surgem-me quando menos espero, resultado da observação atenta que faço de tudo que me rodeia. Depois vem o trabalho de estruturação para colocar essas mesmas ideias em projectos. E, depois, o trabalhão que dá concretizar esses projectos.  Independentemente do julgamento que sempre vou ter, nunca me rendi ao obvio, às modas ou ao que esperam de mim. Sinto-me EU, que me respeito e honro sempre que faço aquilo que me apetece. Tento sempre, isolar-me do ruído externo para conseguir ouvir-me e perceber o que quero ou como me sinto. E, nesta fase da minha vida, não luto contra, simplesmente aceito. Deixo fluir. A meu ver, esta liberdade que conquistei, esta consciência de mim (resultado do meu percurso e valores éticos que nunca subestimei) é o que me dão suporte para criar. E é a criar que me sinto verdadeiramente livre. E é es...

Pergunta 7 - O que menos te entusiasma no teu trabalho?

 As infinitas horas que passo a promover e a arranjar trabalho. Só para deixar bem definido: Eu sou bailarina. Mas não uma bailarina incluída numa companhia de dança. Sou bailarina freelancer. Não tenho agente, empresa ou assistente, ou seja, sou eu que me represento, promovo, agencio, angario e gere. E é grande, ou melhor, a maior parte do meu tempo é a fazer isso mesmo: trabalhar 1000% para conseguir 10% de dança propriamente dita. As pessoas não sabem o trabalho que dá, nos dias de hoje, ser bailarina a freelancer. E digo nos dias de hoje porque há quase 20 anos atras, nos meus primeiros anos profissionais, não precisava de estar tanto tempo em frente a um pc ou agarrada às redes para conseguir onde dançar e para quem ensinar. Era mais simples. Talvez mais eficaz. Agora, trabalho muito mais na net que no palco. Ensino mais online que no estúdio. Tornou-se obrigatório estar na rede, coisa que há uns anos atrás era opcional. E isso consome horas do meu dia e muitas vezes parte...