Avançar para o conteúdo principal

Como Eu Gostaria...

A minha vida é pautada de constantes desafios que coloco a mim própria. 
O último que me tem desafiado é: faço com que agrade ou faço com que ME agrade?
Depois de mais de 10 anos a aprender, actuar e ensinar Dança Oriental tenho refletido muito que caminho seguir neste universo colorido, ambíguo, desafiante mas também cheio de superficialidade. Há muito que percebi que é agradando-me em primeiríssimo lugar que a minha dança irá "tocar" alguém e é seguir o que sinto que crio novos movimentos, mais autênticos e originais reinventado o que já existe. Ando à procura do MEU estilo. Mas, como é difícil... este caminho de entrega e desprendimento de tudo que é superficial.
Neste último trabalho (master class e atuação na Convenção Aziza) deparei-me com duas situações possíveis: despejar uma coreografia moderna com  passos mirabolantes ou provocar as alunas e publico a refletirem sobre a dança e a evolução da mesma. A minha razão dizia-me: "é pá... vou agradá-las dando aquilo que querem - movimentos, movimentos, e mais movimentos!" Mas o meu coração gritava: "não! não vás por aí... ensina-lhes o caminho para elas próprias criarem os seus movimentos, mostra o que realmente é esta moderna vertente em vez de dar a papa toda feita". E, com toda a insegurança do mundo e receio de não agradar segui o meu coração.
Como eu gostaria que TODOS que praticam Dança Oriental percebessem que mais que uma série de movimentos, trinta mil adereços, cenários elaborados, figurinos, assessórios extravagantes e piruetas no ar, no final de tudo o que conta, o que faz a nossa dança ser genuína e possuir um carisma próprio é proporcional à entrega total a que nós estamos dispostos a dar.
Essa entrega é o grande desafio desta dança, e é essa entrega emocional desprendida de tudo que é superficial que não dá para ser ensinada em coreografias, só dá para ser provocada. Foi isso que fiz e como eu gostaria que todas tivessem aderido.
A dança está em constante evolução, não estagnou no clássico, segue como se vida própria tivesse.  Reflete os novos tempos em que vivemos, a procura de novas formas de viver, a tentativa de quebrar o que existe criando novos e renovados caminhos, o colocar em causa a regra, o ser EU.
O movimento modernista na Dança Oriental reflete toda essa busca destes novos tempos como se de um despertar fosse. Exige a total entrega por parte do bailarino (que só muito poucos no mundo conseguem fazer isso), não só em termos físicos mas e essencialmente emocionais onde, o dar-me prazer e agradar-me ganha uma outra dimensão.
Assim, e na minha opinião, a Dança Oriental está a exigir: 
- sentir dentro da Alma e deixar isso transparecer sem nenhuma espécie de tabus, preconceitos ou medos;
- conhecer muito bem a técnica base e o seu próprio corpo (cada vez mais me convenço que MENOS É MAIS), ouvir com o coração a música;
- criatividade para reinventar o que já existe.
É isto que é para mim o pop moderno ou moderno árabe ou vertente modernista ou o que quiserem chamar. Isto é que é são os alicerces da Dança Oriental que, felizmente estão a ser recuperados.
E como eu gostaria que entendesses isto... Como eu gostaria que te amasses a ti própria de tal maneira que dançasses primeiro somente para ti... Como eu gostaria que despertasses... 

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Depois de tantos anos a Dançar e a Leccionar, não estás cansada?

  Queres uma resposta sincera a esta última pergunta selecionada desta série? Estou. Mas isso não me impede - por enquanto - de continuar. Eu sou bailarina e professora por vocação. Desde que me lembro sempre foi o "meu sonho" ser bailarina. E sempre me vi a fazer isso. A vontade de ser professora veio mais tarde, já em adulta, com a necessidade de querer passar os meus conhecimentos e experiência a quem me procura. Percebi, cedo na vida, que não seria feliz nem realizada se, pelo menos, não tentasse seguir a minha vocação. Com coragem, determinação e muita "fé", arrisquei. E depois de tantos anos, apesar de tudo, continua a fazer-me sentido. E, quando algo é tão natural e intrínseco a nós, é difícil ignorar e, largar. Com isto, não quero dizer que foi ou é fácil. E hoje, digo: preferia não ter esta vocação... preferia ter tido a vocação para ser médica, ou advogada, ou até arquitecta... tudo teria sido tão mais fácil. Tão mais aceite. E tão mais reconhecido...

Para ti, o que é mais importante no ensino da Dança Oriental?

Pergunta selecionada do mês de Abril e vou ser directa. Para mim, segundo a minha visão e experiência, o mais importante no ensino da Dança Oriental é conseguir empoderar aquela/e aluna/a passando-lhe o testemunho milenar da essência da D.O. Ensinar D.O., para além da sua complexidade técnica - porque não há propriamente um "guião" ou até mesmo formação para se ensinar como noutras danças - o mais importante é conseguir passar a sua essência. E aí está a questão: qual é a essência da D.O.?...  Esta é a pergunta que cada professora ou professor deve fazer. Se souber responder, ótimo! É meio caminho andado para criar ferramentas porque sabe o que está a fazer.  Se não sabe, eu acho que deve procurar saber.  Porque, digo-vos: o que mais impacta no ensino da D.O. não são a execução perfeita de mil e um movimentos, nem dezenas de coreografias... o que mais deixa legado é a forma e a atitude com que sentes a D.O. mostrando o seu carisma único. Há uma Alma a ser preservada indep...

Quero ser bailarina profissional de D. O. Como começo?

UI!!!!! Esta foi a pergunta selecionada deste mês de Maio e, deixa-me dizer-te: é uma pergunta para milhões. Foi exactamente esta a pergunta que fiz, há 21 anos atrás, à professora e única referência que tinha na altura. A resposta foi: "desenrasca-te". E, tive mesmo que me "desenrascar" numa altura que a Dança Oriental - embora na moda por uns tempos - carregava (e acho que ainda carrega, mas com menos peso) um grande preconceito, consequência de um legado de séculos de ignorância em relação a esta dança. E, passado duas décadas digo-te, a ti que queres lançar-te como bailarina profissional de D.O.: BOA SORTE! Porque não é fácil e, não há um guião. Há, ou tem de haver uma capacidade de resiliência e inteligência emocional que não é para todos. Se me lês regularmente, sabes que sou directa. Acredito que a verdade, sem floreados, vale mais que a resposta bonita e meiga. Neste mundo da Dança não há espaço para "meiguice". Há espaço - e tem de haver - para o ...