Avançar para o conteúdo principal

Rentrée


No outro dia estive a ver uma entrevista a um jornalista, que pesquisava um pouco por todo o mundo, a escravatura que ignorantemente insiste em continuar. Conclui-se que a escravidão deste século é A MULHER.
Impressionantemente a MULHER, que sempre foi escrava e pelo que vi no documentário vai continuar a sê-lo (e não estamos a falar só em países de terceiro mundo) sofre abusos das mais diversas formas: domesticas, sexuais, a nível de preconceito, de trabalho, simplesmente porque é Mulher... Dizia o jornalista que esta escravidão é tão grave, estimando-se que nos últimos vinte anos já morreram mais mulheres, vitimas das mais diversas atrocidades, que o numero total de mortes das duas últimas duas guerras mundiais.
Fiquei completamente impressionada, ouvindo ele a relatar vários casos que assistiu de pura ignorância e maldade sobre algumas mulheres. Não fazia a mínima idéia do que acontece, ainda, a milhares de raparigas e senhoras simplesmente pelo facto de serem... Mulheres.
Inteligentemente disse também, que eu concordo plenamente, se o Homem tivesse útero e sofresse com o estigma da violação e exploração sexual, já teriam sido tomadas medidas sérias e eficazes para que (só por exemplo) a morte agonizante e desnecessária ao dar à luz e a constante ameaça que paira sempre em todas mulheres de serem violadas e exploradas sexualmente, acabasse.
O que relatou e mostrou em imagens deixou-me de lágrimas nos olhos... e doi-me o coração sabendo que neste preciso momento, estão milhares de mulheres e raparigas a sofrer algum tipo de abuso bárbaro.

Pensei: como posso eu ajudar contra este flagelo... podia fazer as malas e juntar-me a organizações que vão por este mundo fora ajudar e dar apoio a mulheres em risco... podia doar dinheiro a essas mesmas associações...
Podia sim, mas pensei também que, eu lido praticamente só com mulheres. Mulheres estas que também têm problemas que, se calhar, eu posso ajudar de alguma forma. Não preciso de ir para África quando tantas portuguesas ainda sofrem os mais diversos abusos. E é também por isso que gosto de dar aulas, pois de alguma forma acabo por ajudar.
Digo mais uma vez, a Dança fez-me perceber o poder que tinha como Mulher. E quando uma Mulher interioriza o poder que possui, transforma tudo à sua volta.
O tal jornalista explicava este efeito, mas noutros contextos, resumido num movimento chamado "GIRL EFECT".

Tenho um grande desejo para esta época que agora começo: ajudar, através da poderosa terapia que é aprender Dança Oriental, mulheres que de uma maneira ou outra se tenham esquecido ou nunca tenham experimentado o poder que têm.
Assim, peço a Deus que me envie pessoas e desafios para que eu possa nunca me acomodar, sempre crescer, como pessoa/bailarina, ajudando outras. Que por sua vez ajudarão outras e outras... afim de acabar com a escravidão do séc. XXI - SER MULHER.

PS: na foto - eu, a minha irmã e a nossa avozinha, mulher de coragem que me inspira!
Criou sozinha três filhos numa aldeia, depois de ter sido abandonada pelo marido que partiu para o Brasil sem nunca mais voltar... ela sempre me disse: "não dependas nunca de um homem, tu (mesmo sozinha) podes tudo... o que me valeu a mim foi saber ler e escrever numa altura que eram enviados para a escola os rapazes em vez das raparigas... mas a minha mãe lutou para que eu estudasse, e com isso consegui criá-los (os filhos) sozinha..."

Comentários

  1. Do meu lado sabes que tiveste um papel muito importante, não sabes? É agora a minha vez de seguir ajudando outras mulheres e fazendo a diferença. :)

    Bj grande

    ResponderEliminar
  2. Oi Sara :)
    também vi esse programa e chorei imenso...
    Tocou-me imenso o sofrimento completamente inútil daquelas mulheres... de todas nós, no fundo.
    Fizeste e fazes diferença na minha vida, pois ajudaste-me a superar um bloqueio profundo e sei que estarás por perto quando eu "desabrochar".
    A Dança foi, e é, o instrumento.
    Beijinhos e obrigada por tudo.

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Mensagens populares deste blogue

Diário de Uma Professora de Dança Oriental - #aula22

 Querido Diário: Se há coisa que me deixa mesmo irritada, é quando acontecem imprevistos de última hora que comprometem condições mínimas para dar uma aula. E, na #aula22, isso aconteceu. Minutos antes de “me ligar”, a câmara decide não colaborar e não conecta para seguir o online. Fico possessa. Se há coisa me desorienta profundamente é algo que não domino ou controlo e a tecnologia , sempre foi o meu “calcanhar de Aquiles”. Respiro fundo. Rapidamente percebo que não vale a pena contrariar o que não controlo. E, faço o que faço sempre: passo para o improviso. O importante é seguir com a aula -The Show Must Go On - com o que tiver à disposição. Resolvo o melhor que consigo e a aula segue. Mas, a irritação permanece ainda mais um pouco... detesto dar aula assim: stressada e irritada... Gosto de usufruir e dar o meu melhor àquelas alunas que tiram do seu tempo para aprender comigo e ontem, não consegui  melhor... E por isso, senti que foi uma aula 2 es...

Diário de Uma Professora de Dança Oriental - #aula21

 Querido Diário: A aula desta semana teve sabor a Carnaval e com um pouquinho de “samba no pé”. Aconteceu logo pela manhã e que bem que soube! Poder acordar com calma e começar o dia a dançar é um luxo. Nem todos podem e nem todos querem... Confesso que sou uma pessoa noturna, mas, forço-me a fazer algum exercício regular pela manhã e sempre que é possível, dou também aulas. Ao início custou-me, mas depois, habituei-me. Não só desperta o corpo, mas, e principalmente, alimenta (e bem) a alma. Sinto que fico nutrida para o resto do dia, com mais energia, com melhor humor e sem sentir tanto dramatismo. Dançar pode não curar depressões, mas (e disto tenho a certeza) Alivia, Descomprime, Descomplica. Dá outra perspetiva . Mostra que é possível superar Dor, Desanimo, Solidão.   Dançar pode funcionar como antidepressivo natural que está ao alcance de todos. Usa e Abusa. Seja de manhã, à tarde ou à noite. Samba ou Dança Oriental... o importante é Dan...

Diário de Uma Professora de Dança Oriental - #aula24

  Querido Diário: E, depois da tempestade, a Primavera - finalmente - apareceu. Estou ansiosa pela mudança da hora para a aula acontecer ainda com luz. Adoro dançar ao anoitecer com o pôr do sol como pano de fundo. Dá outra energia e renova a disposição. Porque #aula23 começou com neura... sem ver “luz ao fundo do túnel” e a tomar decisões minutos antes que custam mas têm de ser feitas. Toda a mudança de ciclo é dolorosa. Mas, o não saber o que virá... é pior ainda. São nestes momentos em que minha mente está sobrecarregada a fazer muito barulho e que só me apetece “desligar” que me disciplino a manter a rotina de treino físico e, claro - porque há também um compromisso - as aulas que dou. As alunas merecem o meu melhor, independentemente das “neuras” da vida. Mas, é aqui que a Dança faz a sua magia. Sei, por experiência de outras fases que, até pode custar - muito - começar, mas depois a Dança faz o seu trabalho terapêutico em nós. Não que nos resolva os problemas, m...