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O Palco II

No artigo anterior, expliquei como é importante a plataforma onde mostras a tua dança. Como O PALCO, independentemente da tua mestria, impacta a tua actuação. Ou consegue elevar ou pode condicionar. Com a experiência, aprendemos a lidar com todo o tipo de "palcos" que, infelizmente, o ideal do mesmo, não é aberto ou acessível a todos os bailarinos ou a todas as danças.

Escrevi também que O Palco, quer queiras ou não, acaba por fazer uma triagem do espectador. E isso, também condiciona a tua actuação. A verdade, nua e crua, é que num evento ou numa ocasião, por mais  propício o ambiente seja à Dança Oriental - onde tu lindamente vais dançar, convidada ou contratada por quem promove o mesmo para enriquecer todo o evento e espaço - nem todos que assistem têm o desejo de te ver dançar. Simplesmente, nem estavam lá para isso em primeiro lugar. E está tudo bem. 

É menos provável isso acontecer quando o espectador paga um bilhete para ir ver-te dançar em determinado espectáculo. Independentemente do palco onde vais actuar. Ele escolheu e quer ver-te. E isso pode fazer toda a diferença na tua actuação. Óbvio, que é muito mais agradável e menos assustador, quando sabemos que quem nos assiste quis, gosta e respeita o nosso trabalho. O grande desafio está quando isso não acontece. 

A reação de um público tem um impacto directo (e para mim, como bailarina, é o que mais me importa) na prestação da tua actuação. E, por mais triado que esse público seja, às vezes - ou muitas vezes - ele pode-nos surpreender. Para bem e para mal. Já me aconteceu de tudo... por isso sei do que falo. Aprendi, pela experiência ao longo dos anos que, não controlamos a reação do público, só a nossa ATITUDE perante o mesmo. 

Quando tudo corre bem, é muito gratificante sentir o carinho do público. A interação que fazem questão de mostrar torna a nossa dança prazeirosa, fácil até. Não queremos sair do palco e quando termina a sensação é a melhor do mundo. A nossa atitude perante esse público é de gratidão. De reconhecimento mútuo. Uma comunicação perfeita. 

Mas, quando assim não é... é... dificil. Penoso até. São nestes momentos que ganhamos "estaleca" e fibra para não desistir ou sairmos da situação completamente arrasadas. Por mim e pela dança que faço, independentemente da reação, a minha actuação é a melhor que eu consigo naquele momento e com as condições que tenho. O "dar o meu melhor" nunca é posto em causa mas, a minha vontade de ali estar, sim. Tenho de ser sincera: quando percebo que aquele público, por melhor que esteja a fazer, não está "nem aí"... mantenho-me. Fiél a mim mesma. Com profissionalismo. Com integridade. Com Atitude. Mas com vontade de sair dali. Nestes casos, o que faço é procurar quem esteja interessado (porque, felizmente, há sempre alguém) e dançar para essa pessoa. Mas digo-vos, já aconteceu, nem isso acontecer. E aí, dançei para mim. Porque no final de tudo, é comigo própria que tenho de lidar.

Dançar em palco - seja ele qual for - é muito mais que uma mera actuação... um despejar de movimentos. É uma comunicação através de uma linguagem universal onde o que impera não são palavras, são reações entre bailarina e público. Só conseguimos controlar a nossa atitude perante essa conversa de almas. Se dás o teu melhor, com verdade e hosnestidade, então está tudo bem. Tu sais de cena em paz. Até podes ficar desiludida (ou deliciada), porque não esperavas determinada reação, mas em paz contigo. Podemos sempre melhorar sim, podemos sempre (aliás devemos) exigir boas condições de palco sim, mas o público acaba sempre por nos surpreender. A tua Atitude é que não te pode surpreender... Tens de te conhecer bem para não. E conheces?!... esta é a pergunta que te deixo.





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