Avançar para o conteúdo principal

A Dança Oriental e a AutoEstima

 A Autoestima, é um tema complexo. Não sou psicóloga, nem coach, nem especialista mas, depois de duas décadas a lidar com (maioritariamente) milhares de mulheres, dá-me aqui alguma margem para expressar uma opinião.

Acredito - até pelo que tenho observado da minha filha que acompanho desde o seu primeiro momento de vida - não nascemos com "autoestima". Somos uma "tela em branco" onde construímo-la desde o nosso primeiro minuto. Muitos são os factores que contribuem e muito se fala sobre o papel da Dança Oriental na nossa Autoestima. Desde que danço que oiço dizerem: "vem dançar que isso fará com que ganhes autoestima", como se de um milagre se tratasse. Será?!

Como sempre, vou ser directa: Sabes o que é que a Dança Oriental faz pela tua Autoestima?

NADA.

Mas, é na maneira como que encaras a Dança Oriental que vai fazer toda a diferença.

Vamos lá ver: 

Não é por achares piada (porque ainda é vista por muitos como uma dança exótica e sensual) e aprenderes uns movimentos que isso vai mudar seja o que for na tua vida. Muito menos ter algum impacto na complexidade que é a construção da  nossa Autoestima. Podes sim - e não tem nenhum mal nisso - usar a D.O. para te divertires, exercitar, socializar, expores-te, aprenderes algo novo e desafiante mas, conseguires da dança um aliado para ganhares autoestima terás de encará-la com outra profundidade.

O que a Dança Oriental pode fazer pela construção (ou resgate) da tua Autoestima é fazer  com que olhes e cuides do teu bem-estar físico e mental. Muito ao encontro daquela velha máxima: se eu não gostar de mim, quem gostará! E - acredito também - quem procura a Dança Oriental, tem (mesmo sem consciência) esse desejo: ir ao encontro de algo que sente falta, como mulher e ser humano.... 

A Dança Oriental, potencia um encontro contigo própria. Faz com que tu te observes com olhar critico, mas num lugar de amor e compaixão. Claro que isso pode ter o efeito contrário, transformares esse mesmo olhar numa base de comparações, julgamentos e perversidade e aí - outra coisa que acredito - reside a grande desilusão que leva a grande parte das "desistências" de tantas praticantes.  

Tudo depende na forma como encaras a tua - sim tua, porque é um caminho individual - Dança Oriental. É no decorrer da aprendizagem e no teu percurso (até mesmo profissional) que reside o potencial que se vai aliar no teu ganho de Autoestima. Não é o movimento, é a maneira como lidas com esse movimento. Não é aquela atuação, é como te "vês" naquela actuação. Não são aquelas aulas de dança nem aquela professora, é o que estas podem fazer pelo teu autoconhecimento. A Dança Oriental obriga-te a olhares para ti. A encarares o teu corpo, a senti-lo, a reconhecer e expressar as tuas emoções. Esse é um caminho para conquistares autonomia principalmente emocional e conseguires descobrir a tua autenticidade. E é isso que é Autoestima: segurança de quem sou, saber como sou e usar isso a meu favor para transparecer a minha melhor versão. Na Dança e na Vida. 

A grande mais valia no ganho de uma Autoestima segura e consciente é na hora da imposição dos nossos limites enquanto mulheres. Sim mulheres, nós que carregamos no nosso ADN milénios de violência e abuso numa sociedade machista e castradora
. E atenção: se pensarmos bem, esta sociedade também tem o seu dedo de controlo no próprio universo da Dança Oriental, e sempre o fez... mas isto seria tema para outro artigo.

Uma mulher segura dela própria não se deixa manipular por relações tóxicas - amorosas, familiares, amizades - conquista independência a todos os níveis da sua vida, revela autoridade, ganha respeito, empodera outras mulheres em vez de competir com elas. Não é por acaso que a Dança Oriental é procurada, na esmagadora maioria, por mulheres. Algo mais profundo nos chama... algo queremos, desesperadamente, resgatar que nos foi negado ou tirado. Então, tu que danças, procura essa profundidade. Renasce. E constrói a tua Autoestima mesmo que ela tenha sido maltratada ou até mesmo esmagada. Porque esse é o poder da mulher: criação. De Vida e não só.



Comentários

Mensagens populares deste blogue

Depois de tantos anos a Dançar e a Leccionar, não estás cansada?

  Queres uma resposta sincera a esta última pergunta selecionada desta série? Estou. Mas isso não me impede - por enquanto - de continuar. Eu sou bailarina e professora por vocação. Desde que me lembro sempre foi o "meu sonho" ser bailarina. E sempre me vi a fazer isso. A vontade de ser professora veio mais tarde, já em adulta, com a necessidade de querer passar os meus conhecimentos e experiência a quem me procura. Percebi, cedo na vida, que não seria feliz nem realizada se, pelo menos, não tentasse seguir a minha vocação. Com coragem, determinação e muita "fé", arrisquei. E depois de tantos anos, apesar de tudo, continua a fazer-me sentido. E, quando algo é tão natural e intrínseco a nós, é difícil ignorar e, largar. Com isto, não quero dizer que foi ou é fácil. E hoje, digo: preferia não ter esta vocação... preferia ter tido a vocação para ser médica, ou advogada, ou até arquitecta... tudo teria sido tão mais fácil. Tão mais aceite. E tão mais reconhecido...

Para ti, o que é mais importante no ensino da Dança Oriental?

Pergunta selecionada do mês de Abril e vou ser directa. Para mim, segundo a minha visão e experiência, o mais importante no ensino da Dança Oriental é conseguir empoderar aquela/e aluna/a passando-lhe o testemunho milenar da essência da D.O. Ensinar D.O., para além da sua complexidade técnica - porque não há propriamente um "guião" ou até mesmo formação para se ensinar como noutras danças - o mais importante é conseguir passar a sua essência. E aí está a questão: qual é a essência da D.O.?...  Esta é a pergunta que cada professora ou professor deve fazer. Se souber responder, ótimo! É meio caminho andado para criar ferramentas porque sabe o que está a fazer.  Se não sabe, eu acho que deve procurar saber.  Porque, digo-vos: o que mais impacta no ensino da D.O. não são a execução perfeita de mil e um movimentos, nem dezenas de coreografias... o que mais deixa legado é a forma e a atitude com que sentes a D.O. mostrando o seu carisma único. Há uma Alma a ser preservada indep...

Quero ser bailarina profissional de D. O. Como começo?

UI!!!!! Esta foi a pergunta selecionada deste mês de Maio e, deixa-me dizer-te: é uma pergunta para milhões. Foi exactamente esta a pergunta que fiz, há 21 anos atrás, à professora e única referência que tinha na altura. A resposta foi: "desenrasca-te". E, tive mesmo que me "desenrascar" numa altura que a Dança Oriental - embora na moda por uns tempos - carregava (e acho que ainda carrega, mas com menos peso) um grande preconceito, consequência de um legado de séculos de ignorância em relação a esta dança. E, passado duas décadas digo-te, a ti que queres lançar-te como bailarina profissional de D.O.: BOA SORTE! Porque não é fácil e, não há um guião. Há, ou tem de haver uma capacidade de resiliência e inteligência emocional que não é para todos. Se me lês regularmente, sabes que sou directa. Acredito que a verdade, sem floreados, vale mais que a resposta bonita e meiga. Neste mundo da Dança não há espaço para "meiguice". Há espaço - e tem de haver - para o ...