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Manias de "Diva"

Como artista que sou, é meu desejo espalhar arte. Como bailarina, não só adoro, mas também tenho necessidade de mostrar a minha dança. Mostro-a há 20 anos. Tenho o privilégio de já ter pisado os mais variados palcos, divididos por espectáculos, eventos e momentos também nos mais variados ambientes. 

Somadas, já actuei para milhares de pessoas ao longo dos anos. Tive públicos fantásticos, outros nem por isso, uns assim assim, mas sei que houve quem eu "toquei" de tal maneira que se comoveu. Gosto de audiências céticas mas que no final do espectáculo se rendem. Adorei dançar para o meu marido no nosso casamento, amo dançar para as alunas e mais recentemente fico emocionada sempre que vejo a minha filha a assistir-me. São vinte anos de muitos bastidores, nervos, expectativas, imprevistos e muito, muito divertimento. Não me arrependo de nenhuma dança que fiz e guardo com carinho cada actuação. Eu ADORO o palco e tudo que o envolve. Mas... repito: são muitos anos de estrada... e o que é bom também desgasta e amadurece ou se calhar, endurece. Porque também houve erros e desilusões. Tudo tem o outro lado da moeda.

Eu nunca dancei só porque sim. Sempre actuei com algum propósito e sempre ponderei se essa mesma actuação faria sentido. Para a dança, para mim, para aquele público, naquele contexto e naquele espaço. Nunca aceitei actuar só pelo cachet ou por favores. Para mim, a dignificação da Dança Oriental sempre veio em primeiro lugar e, consequentemente, se a minha exposição valeria a pena. Isso faz com que escolha criteriosamente cada trabalho que sempre se traduziu em menos actuações mas mais qualidade embora, nos dias de hoje, faz com que actue cada vez menos. E há mais razões. A principal é que há pouco trabalho e a pandemia agravou MUITO a situação que já não era "famosa". Quando há, faço questão de continuar a escolher aqueles que realmente me fazem sentido. E, infelizmente, são muito poucos. Agora se me perguntarem se gostava de actuar mais vezes? Claro que gostava, mas... não a qualquer "preço", nem em qualquer palco, nem para qualquer pessoa. Fazer só por fazer?! Não. Tem de (me) valer a pena e dar um prazer enorme porque agora, o sabor é diferente.

Há quem ache e sempre achou, que esta minha postura é arrogante com manias de "diva". Temos pena... são valores e opções que estabeleci há 20 anos atrás e não os negoceio. Porque o mais "perigoso" no meio artístico é cedermos os nossos valores em troca de ilusões. Nunca troquei, mesmo que perdesse boas oportunidades. E perdias mas, há oportunidades que vêm camufladas de boas intenções e mais tarde revelaram-se podres. Há quem ache que sou "dura de mais", que podia dar o "jeito", seria "só uma dança" para entreter o pessoal. 

Eu não dou "jeitos". Não faço "favores". Não danço "mais ou menos". Não sou "animal de circo" para entreter. Mereço ser respeitada como bailarina profissional que sou. Eu SEI o valor da minha dança e do meu trabalho. E - só - depende de mim, fazer-me respeitar e dignificá-lo. E agora, depois de tantos anos e experiência, nunca esta postura ou atitude - como queiram chamar - fez tanto sentido. A maturidade na minha profissão trouxe-me a certeza que nem tudo me serve. E ainda bem.

Com isto não estou a criticar ou a julgar ninguém, nem nenhum colega. Cada um sabe de si, mas, a Dança Oriental depende de todos. Que o Universo me (nos) traga bons trabalhos. Grandes palcos. Excelente público. Eu mereço e a Dança Oriental também. Vou continuar a ter "manias de diva" mas se for para fazer um extraordinário trabalho, que assim seja.





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