Alma do Oriente...
Meditei muito sobre o tema
quando me preparava para este espectáculo. Alma do Oriente... o que
significaria, o impacto que teria, a importância que iria ter. Senti o peso da
responsabilidade. Não só porque tinha sido um convite de alguém (muito)
especial, não só porque iria ter dezenas de alunas de olhos postos em mim, não
só porque retornaria ao palco depois de tanto tempo, mas - também - porque, e
mais uma vez, seria uma oportunidade de mostrar o melhor e o quanto a Dança
Oriental merece ser respeitada como uma forma de Arte igual a todas as outras
danças. Sim. Cada vez que piso o palco, sei que tenho o dever de
"educar" o publico que assiste. Dignificar e dar a conhecer a D.O. é
e continua a ser uma das minhas grandes missões. Embora o publico já esteja mais
sensibilizado e interessado, o caminho ainda é longo... não é fácil conquistar
e fidelizar público para assistir a espectáculos de dança... muito menos para
assistir a um só dedicado à D.O.
As músicas que escolhi refletiam
o que, para mim, representariam a essência do Oriente. Foi a música que me fez
apaixonar pela D.O. e, como como seria um recomeço, teria de ser de novo a
música a tocar-me na Alma. Tal como a toca nos árabes. A Alma do Oriente é
música e dança que se complementam numa alquimia mágica. Uma comunicação
ancestral, diria divina. E eu sabia que seria essa linguagem que teria o poder
de conquistar e encantar quem estaria a assistir.
A primeira, um clássico -
Batwanes Beek by Warda - relembrou-me o meu primeiro amor pela D.O. e sabia que
me seria difícil dançar esta música. Levou-me às profundezas das minha
memórias... e veio à minha pele o bom e o mau de 20 anos de história. Mas fiz
questão de a dançar. Precisava. Porque cada dança minha é-me um caminho de
cura. E, sabia que esta música seria também um "quebrar de gelo"...
porque depois de tanto tempo sem actuar num palco, óbvio que estava nervosa...
claro que num primeiro impacto senti-me intimidada por todos aqueles olhos
postos em mim. Tenho experiência sim, sou artista sim mas sobretudo sou uma
bailarina que não esconde as suas fragilidades. E a minha dança transparece
todas. No palco, a minha comunicação é genuína e espontânea. Deixei fluir...
sem grandes pensamentos. Senti, só.
A segunda - Ascendance by
Lindsey Strirling - é uma música actual que não consegue ser indiferente a
ninguém, nem aqui, "nem na China". E, acho que isso também é Alma do Oriente:
a universalidade das sonoridades que nos tocam "cá dentro". Depois do
gelo quebrado, nesta quis ousar e libertar a minha essência que estava quieta à
espera da oportunidade certa para sair. Numa dança de assinatura, deixei o meu
corpo "falar" por si com uma energia que não controlo. Totalmente
improvisada (tal como eu gosto), foi como um grito de liberdade. Foi poderoso. Foi meu.
Devo dizer que todo espectáculo mostrou Alma.... Do Oriente. Do Ocidente. Do Ser Humano. Porque a D.O. é mais que uma dança étnica ou exótica como costumam rotular. É partilha. É amor. É energia. É transparência. É criação. É Arte... na sua mais pura versão. E, que saudades tinha do palco... do burburinho do backstage... do riso da mulherada toda junta nos camarins... de tanto público... atento e surpreendido (com a minha filhota a assistir toda orgulhosa e super feliz). De estar com as minhas colegas. Do nervoso miudinho. Da espectativa. Foi tão bom... que venham mais.
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