Avançar para o conteúdo principal

Lembro-me tão bem...

Como se fosse hoje. Mas foi há mais de 19 anos atrás. Lembro-me bem o momento que decidi seguir a minha vocação: ser bailarina.

Foi num momento decisivo e impulsivo onde me encontrava saturada de fazer aquilo que não me fazia sentido. Não tinha prazer no que estava a fazer. Senti, que o curso que estava a tirar era pura obrigação. Sim. Estava na faculdade, no último ano e tinha de decidir o que queria fazer realmente quando acabasse os estudos académicos.

Era o segundo ano que praticava Dança Oriental. No ano anterior tinha terminado com o ballet. Não tinha hipótese de continuar, mas a minha paixão pela dança intensificou-se com a D.O. e cada vez crescia mais, dentro de mim, a vontade de tornar aquela paixão num modo de vida. E foi numa manhã, sentada numa das cantinas da faculdade - sim, tinha-me "baldado" a uma aula - que parei e pensei:

1º O que estava realmente ali a fazer;

2º Se fazia sentido continuar;

3º O que me apetecia estar a fazer;

E esta 3ª pergunta a mim mesma decidiu o meu futuro. Imaginem qual foi a resposta: dançar, ensinar, expressar, inspirar.

Imaginei o que me apetecia fazer sempre que acordasse. O que me apetecia fazer sem obrigação. O que é que realmente me apetecia. E a resposta veio sempre em forma de dança. Descobria a minha vocação. Não era a Arquitectura, o curso que estava a tirar. Via-me a ensinar num estúdio de dança, a ensaiar horas a fio para dançar num palco mas não me via a projectar edifícios. E ali tomei a decisão. Porque fazer o que nos faz feliz é uma decisão. Assim que terminasse o curso, que era esse mesmo ano, arrumava os lápis e passava a usar diariamente os lenços.

Desde aquele momento, até hoje, passou-se tanto que daria um livro. Com altos e baixos. Com alegrias e tristezas. Com vitórias e frustrações. Com vitalidade e com desanimo. Com força e sem nenhuma. Com esperança e com pessimismo. Houve dias, alturas, momentos fantásticos, mas houve outros "filhos da mãe" ao ponto de ter desejado nunca ter tido aquela decisão e nunca ter percebido a minha vocação.

Descobri ao longo destes anos que ser bailarina é muito mais que pisar um palco. É inspirar. Vida. Beleza. Resiliência. Ativismo. É ser Artista com tudo que implica. É ser Exemplo. E a responsabilidade é enorme. É um privilégio. Eu sou uma privilegiada porque ousei e tive coragem de sentir e fazer o que me apetece.

A escrita sempre me ajudou e ajuda a colocar "ordem" na minha cabeça que não pára. Sempre escrevi o que me ia na alma. Só não mostrava. Com a criação deste blog - que já conta com alguns anos - passei a mostrar ao mundo. É a minha alma de bailarina a dançar por outros palcos. Porque ser bailarina é, também, partilhar. Os bastidores. Os segredos. Os Pensamentos.

Isto tudo para te dizer que vem aí mais uma série de pensamentos meus. De 15 em 15 dias. E conto contigo para os leres, comentares e partilhares também. E para também te deixar esta pergunta: O QUE TE APETECE FAZER?





Comentários

Mensagens populares deste blogue

Depois de tantos anos a Dançar e a Leccionar, não estás cansada?

  Queres uma resposta sincera a esta última pergunta selecionada desta série? Estou. Mas isso não me impede - por enquanto - de continuar. Eu sou bailarina e professora por vocação. Desde que me lembro sempre foi o "meu sonho" ser bailarina. E sempre me vi a fazer isso. A vontade de ser professora veio mais tarde, já em adulta, com a necessidade de querer passar os meus conhecimentos e experiência a quem me procura. Percebi, cedo na vida, que não seria feliz nem realizada se, pelo menos, não tentasse seguir a minha vocação. Com coragem, determinação e muita "fé", arrisquei. E depois de tantos anos, apesar de tudo, continua a fazer-me sentido. E, quando algo é tão natural e intrínseco a nós, é difícil ignorar e, largar. Com isto, não quero dizer que foi ou é fácil. E hoje, digo: preferia não ter esta vocação... preferia ter tido a vocação para ser médica, ou advogada, ou até arquitecta... tudo teria sido tão mais fácil. Tão mais aceite. E tão mais reconhecido...

Diário de Uma Professora de Dança Oriental - #aula12

 Querido Diário: E, num “piscar de olhos” chegou a #aula12: última do 1º trimestre da época 24/25 e, também última deste ano 2024. E de tão descontraída, esta aula foi 5 estrelas... rimos, falámos, brincámos, desejámos as boas festas e claro... dançámos. Ao som de mais umas músicas de Natal, disfrutámos também da pequena coreografia sequencial onde trabalhámos - bastante para sedimentar - a técnica do tema deste último trimestre. Gosto de finalizar etapas. Encerrar ciclos para dar espaço a novos. Vem agora novo ano, novo trimestre e com eles novas etapas, aulas, desafios e superações. Acompanhada pelas alunas mais belas, tudo será mais... aconchegante e, embora ainda não tenha lido nenhuma previsão astrológica para 2025, disto eu tenho a certeza: Nada como um círculo fiel de mulheres para nos apoiar e alavancar. Se juntarmos a ele o ingrediente Dança então... o nível e poder desse círculo é outro.   E assim me despeço: Até para o Ano! Que neste caso é o mesmo q...

Diário de Uma Professora de Dança Oriental - #aula11

Querido Diário: Nesta altura, com este frio, custa iniciar qualquer actividade física... E, a Dança Oriental, com raiz nos países do Médio Oriente onde o calor é rei, custa a adaptar-se às temperaturas próprias desta época no nosso país. Nas aulas, agora, calçamos meias (várias), perneiras, leggins mais grossas e os tops passam a camisolas. Mas, à medida que a aula avança, vamos também despindo todas essas camadas. Porque dançar aquece. Não só o corpo mas, também, a Alma. E aquele frio do início rapidamente dá lugar a um calorzinho reconfortante. É muito bom sentir esta dinâmica. Acredito (e sei) que não aconteça só com a dança, mas, com toda a actividade física. Custa “arrancar” mas depois, sabe mesmo bem.   E assim foi uma aula... diria... 4 estrelas. Só não foi cinco estrelas porque o calorzinho  gerado durou só... uma hora... a hora da aula .