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Os Meus Professores - Parte I

 Em sequência do texto anterior neste, quero falar dos meus professores de dança. Ao longo de toda a minha vida, tive muitos mas vou destacar dois que tiveram mais impacto no meu percurso: a minha professora de Ballet e a de Dança Oriental.

Tive 16 anos de Dança Clássica, passei por algumas professoras mas A MINHA professora, aquela que mais me marcou, ensinou e ajudou a ser também a professora que sou hoje, foi a Cristina Filipe. Lendária professora de ballet. Assertiva, líder, ética, uma autêntica professora (das antigas) de ballet e uma das mulheres mais inteligentes que conheço. Ensinou-me muito mais que técnica de ballet clássico. Ensinou-me a usar a inteligencia emocional e a dar voz às minhas opiniões. Ensinou-me que, se não nasceste com o "rabinho virado para a lua" tens mesmo de ir à luta e que há valores que não são negociáveis. Foi com ela, na sua academia, que tive o meu primeiro trabalho como rececionista e aí, fui aprendendo todos os bastidores de um negócio. Foi com ela que percebi que adoraria dar aulas de dança quando servia de assistente em todas as aulas antes da minha (que normalmente era a última do dia). Atenta, via como dava a aula, como lidava com as suas alunas, como ensinava, observava e absorvia. O que eu aprendi assistindo aquelas aulas é a base de como ensino nas minhas. Deu-me disciplina e nunca me passou a mão pela cabeça. Raramente me elogiava. Disse-me um dia que não precisava. Que era das mais aplicadas e trabalhadoras. Que tinha noção que só com muito trabalho chegaria lá, afinal não tinha nascido com o corpo de sonho para bailarina clássica. Mas tinha garra. Força de vontade. Muita vontade. Ganhei resiliência. Percebi que tinha talento e aprendi a "fazê-lo" por mim, independentemente do estímulo que recebia. Posso dizer que não era uma professora meiga mas era atenciosa. Era o que cada uma de nós precisava naquele momento. Eram aulas duras, e se estava mal humorada... UI!!! Mas eu ADORAVA!!!!! Levantava-me aos sábados às 6h30 da manhã, apanhava o comboio e metro para ir ter aula. Durante a semana, chegava às 22h30 ou mais tarde muitas das vezes. E foram tempos tão bons!!! Fui uma privilegiada. Ter um professor que nos marca desta maneira é sucesso garantido para a vida independentemente do que fizermos. 

Entretanto, a vida seguiu o seu rumo e deixei de ter contacto com ela durante alguns anos, mas reencontramo-nos e tive o prazer de ela já ter conhecido a minha filha e a honra ter assistido a espetáculos meus. Infelizmente, deixou de dar aulas... mas o seu legado está impresso em mim, nas minhas colegas da altura e em centenas de raparigas que passaram pelas suas aulas. Nunca a esquecerei porque aliás... cada vez que dou uma aula, ela está presente através de mim. Foi na sua academia que tive pela primeira vez contacto com a Dança Oriental. Lembro-me tão bem... estava na rececção a trabalhar quando ouvi a música que vinha de uma aula de Dança Oriental que estava a decorrer. Aquela música "mexeu" comigo... fui espreitar... na outra aula já estava a experimentar... e nunca mais parei... até hoje, quase vinte anos depois.

A minha outra grande referência foi a minha professora de Dança Oriental mas, neste caso, o que teve de muito bom... teve de muito mal. E a mágoa é grande demais para conseguir falar.





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