Avançar para o conteúdo principal

O meu trigésimo terceiro ano:

  Quem me segue, aqui pelo blog, sabe que no final de cada época lectiva (que coincide com a passagem de mais um aniversário meu) faço um balanço do que foi o último ano.
Posso dizer que: se o ano passado tinha sido o ano da desilusão e difícil, este foi o ano do desencantamento e bem duro.

Sempre ouvi dizer que, tudo que é belo, tem de passar pelo fogo. Que este purifica. Torna mais autentico. 
Foi pelo Fogo que que passei este meu trigésimo terceiro ano de vida... e, com muita dificuldade, lágrimas, incertezas, desencantamentos, quase a rastejar (muitas das vezes) consegui sobreviver. 
Esta é a palavra certa: SOBREVIVI!

Quem me conhece sabe, que não me mascaro com relatos que a minha vida (apesar de fazer o que quero) é só glamour e facilidades. MUITO PELO CONTRÁRIO!!! Quando decidi - há 10 anos atrás - que iria seguir o meu destino, não imaginava a coragem e determinação que precisaria de ter.
Decidir não seguir a "carneirada" (tanto como bailarina e como cidadã deste mundo) tem o seu preço que não é fácil pagá-lo... é um processo que exige um amadurecimento fora do vulgar e adiantado para a minha idade.
Nunca me ensinaram a lidar com o improviso que é o meu dia a dia - curiosamente a Dança ajudou-me nisso - o meu quotidiano ensinou-me que, tudo tem uma consequência e o que plantas - em ações, palavras e pensamentos - colherás. 
Eu semeei durante todo este ano. 
Estive mais recolhida a observar, a ponderar, a processar, a sentir as chamas a passarem por mim e ter a tentação de querer sair delas vendo o caminho mais fácil e obvio.
Sobrevivi, e agora sinto-me GRATA por ter conseguido passar por tudo sem deixar de ser EU. Apesar de ter-me ido abaixo psicologicamente, espiritualmente e principalmente fisicamente, consegui ser-me fiel.
Passei pelo Fogo, saí chamuscada mas nunca estive tão lucida das minhas capacidades. E, curiosamente, nunca dancei tão bem como agora. Sinto que ultrapassei obstáculos que me impediam de sentir a plenitude que é DANÇAR sem constrangimentos, medos ou preconceitos. Pela primeira vez, olho para a minha dança e vejo DANÇA, vejo ARTE, VEJO-ME.
Foi preciso passar pelo fogo do deserto para subir os degraus que estavam bloqueados, e tornar a minha passagem por este mundo mais genuína e verdadeira. Transformei-me e sinto-me ORIGINAL, com a certeza do que quero.
Muitos poucos compreenderão o que quero dizer. Infelizmente, a ilusão baseada num encantamento mundano continua a ser mais forte e daí, dar GRAÇAS a DEUS por ter-me desiludido e desencantado em TODOS os o níveis da minha vida, tanto profissional como pessoal.


O que notei também, neste ano que passou, foi que as semente que plantei no passado deram frutos pelas vias que menos esperava:
- desta segunda vez que tentei fazer um espectáculo no Museu do Oriente, as portas abriram-se que nem o mar vermelho se abriu para Moisés. Confiaram no meu trabalho e este "Da MULHER" correu melhor que o primeiro;
- a grande surpresa, para mim, foram as minhas alunas. Elas não imaginam que a minha maior recompensa foi ver que a semente dos meus ensinamentos - que são mais que meros passos de dança - deu frutos! E que frutos saborosos!!! Conquistas nos três primeiros lugares em concursos a nível nacional e tenho o orgulho de saber que quem aprende comigo APRENDE dança e a andar pelas suas próprias pernas;
- o prazer que foi estar mais próxima de colegas que respeito e adoro! Saber que não estou sozinha embora, o caminho da dança seja na maior parte das vezes solitário. Ter a sensação de ser respeitada e também admirada pelo meu trabalho é reconfortante.

LEÃO o meu signo

Agora, à semelhança dos outros anos, vou descansar. Desintoxicar-me com água salgada e fortalecer-me com o sol e natureza. O que se sucederá no meu próximo ano de vida? Não faço ideia, mas já nem ouso planear... o que vier será bem vindo, mas por favor: chega de provação...!


PS: deixo aqui o link de uma das minhas muitas danças deste ano. Mais do que palravas, a minha comunicação corporal diz muito mais: 

Comentários

  1. Compreendo-te perfeitamente. A caminhada nem sempre e' facil... tem altos e baixos mas e' ate' ai q descobrimos quem somos e tocamos a nossa alma! Continua corajosamente, gosto de te ver voar mais e mais :)
    Beijinhos,
    Filipa N.

    ResponderEliminar
  2. Já tinhamos conversado um pouco sobre tudo isto, mas acredito, pois já te conheço um pouquito que não és piquena de desistir, e vais lutar sempre e sempre pelos teus objetivos,vi isso no espétaculo deste ano, és uma força da natureza... Força para um novo ano que acredito que seja melhor...um grande beijinho de alguem que gosta muito de ti =)
    Ana Arsénio

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Muito Grata Ana!!!!
      E que tenhamos muitas jantaradas com o convívio de todos!!! Bem Hajas tu e a tua família!!!
      SN

      Eliminar

Enviar um comentário

Mensagens populares deste blogue

Depois de tantos anos a Dançar e a Leccionar, não estás cansada?

  Queres uma resposta sincera a esta última pergunta selecionada desta série? Estou. Mas isso não me impede - por enquanto - de continuar. Eu sou bailarina e professora por vocação. Desde que me lembro sempre foi o "meu sonho" ser bailarina. E sempre me vi a fazer isso. A vontade de ser professora veio mais tarde, já em adulta, com a necessidade de querer passar os meus conhecimentos e experiência a quem me procura. Percebi, cedo na vida, que não seria feliz nem realizada se, pelo menos, não tentasse seguir a minha vocação. Com coragem, determinação e muita "fé", arrisquei. E depois de tantos anos, apesar de tudo, continua a fazer-me sentido. E, quando algo é tão natural e intrínseco a nós, é difícil ignorar e, largar. Com isto, não quero dizer que foi ou é fácil. E hoje, digo: preferia não ter esta vocação... preferia ter tido a vocação para ser médica, ou advogada, ou até arquitecta... tudo teria sido tão mais fácil. Tão mais aceite. E tão mais reconhecido...

Para ti, o que é mais importante no ensino da Dança Oriental?

Pergunta selecionada do mês de Abril e vou ser directa. Para mim, segundo a minha visão e experiência, o mais importante no ensino da Dança Oriental é conseguir empoderar aquela/e aluna/a passando-lhe o testemunho milenar da essência da D.O. Ensinar D.O., para além da sua complexidade técnica - porque não há propriamente um "guião" ou até mesmo formação para se ensinar como noutras danças - o mais importante é conseguir passar a sua essência. E aí está a questão: qual é a essência da D.O.?...  Esta é a pergunta que cada professora ou professor deve fazer. Se souber responder, ótimo! É meio caminho andado para criar ferramentas porque sabe o que está a fazer.  Se não sabe, eu acho que deve procurar saber.  Porque, digo-vos: o que mais impacta no ensino da D.O. não são a execução perfeita de mil e um movimentos, nem dezenas de coreografias... o que mais deixa legado é a forma e a atitude com que sentes a D.O. mostrando o seu carisma único. Há uma Alma a ser preservada indep...

Quero ser bailarina profissional de D. O. Como começo?

UI!!!!! Esta foi a pergunta selecionada deste mês de Maio e, deixa-me dizer-te: é uma pergunta para milhões. Foi exactamente esta a pergunta que fiz, há 21 anos atrás, à professora e única referência que tinha na altura. A resposta foi: "desenrasca-te". E, tive mesmo que me "desenrascar" numa altura que a Dança Oriental - embora na moda por uns tempos - carregava (e acho que ainda carrega, mas com menos peso) um grande preconceito, consequência de um legado de séculos de ignorância em relação a esta dança. E, passado duas décadas digo-te, a ti que queres lançar-te como bailarina profissional de D.O.: BOA SORTE! Porque não é fácil e, não há um guião. Há, ou tem de haver uma capacidade de resiliência e inteligência emocional que não é para todos. Se me lês regularmente, sabes que sou directa. Acredito que a verdade, sem floreados, vale mais que a resposta bonita e meiga. Neste mundo da Dança não há espaço para "meiguice". Há espaço - e tem de haver - para o ...