Perguntam-me muitas vezes se vivia se não dançasse.
Resposta: vivia.
A dança faz parte da minha vida, da minha personalidade, é a minha melhor forma de expressão e comunicação mas não me define por inteiro.
Eu acredito - porque o sinto na pele - que ser bailarina e depender da dança para viver requer muito mais que paixão pela mesma. Requer um amor incondicional por esta Arte, mas sobretudo requer uma constante dádiva a tudo que me rodeia, uma constante procura que vem de dentro.
Estar fechada num estúdio e dançar de manhã à noite não me preenche em nada. Passar o dia a ver vídeos do youtube de performances ou estar constantemente a ouvir musica árabe seria tortura para mim. Não é a fechar-me num mundinho da fantasia criado por mim que irei dançar melhor.
A minha dança define-se em TUDO que faço em cada segundo.
As minhas ideias para shows tenho-as a ver um filme, a ler uma revista enquanto como um belo bolo. A minha forma de fazer exercício é a passear a minha cadelinha. Medito enquanto brinco com ela e com os seus amiguinhos caninos.
É a resgatar um animal perdido e fazer reencontrar o seu dono (como o fiz no outro dia), é em ajudar um idoso no supermercado, é em participar em manifestações em prol do que achamos justo, é FAZER em vez de somente clicar nos "likes" do facebook, é PARTICIPAR e APOIAR os meus colegas indo aos seus espectáculos, é visitando outros países e vendo outras artes que arranjo FORÇA e VONTADE para continuar a dançar profissionalmente passados 10 anos.
É assim que me consigo reinventar ano após ano, dança após dança com coreografias 100% improvisadas. A minha imaginação não tem fim porque crio um poço - dentro de mim - de experiencias vividas que transparecem quando danço.
Eu simplesmente vivo e só faço aquilo que me apetece, e apetece-me muita coisa sem ser só a dança.
Por isso, vivia sim se não dançasse... mas não era, de certeza, a mesma coisa.
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