Avançar para o conteúdo principal

Carta Aberta à Comunidade de Dança Oriental em Portugal

Caras/os colegas, alunas/os, amigas/os, amantes e curiosos da Dança Oriental e de Arte:

É conhecido a minha luta, durante já 10 anos, pela dignificação da Dança Oriental no nosso país.
Todos vocês me conhecem e sabem a seriedade e dedicação que coloco em cada dança, aula, workshop ou texto que me proponho fazer.
Todos sabem - ou pelo menos têm uma noção - do quanto é difícil ser-se bailarino neste país e, muitos não concordarão, mas sê-lo especificamente de Dança Oriental torna a "tarefa" bem mais árdua.
Eu, apesar de tudo, ADORO o nosso país. E, acredito que, se todos imigrarmos ou formos ser artistas noutro lado onde o respeito, a procura e o reconhecimento são de um outro nível (superior claro), Portugal fica entregue à bicharada do baixo nível e do vulgarismo. 
Eu não acredito que alunos, publico, amantes da Arte em geral mereça tal fado. Eu - e chamem-me o que quiserem - ainda acredito que vale a pena SONHAR em Portugal e REALIZAR esses mesmos sonhos.
Não tenho a ânsia de conquistar o mundo (mas se ele vier ter comigo ótimo!), fugir de cá, ou ir para outras galáxias. Sou uma portuguesa (lisboeta com muito orgulho) que quer trabalhar com os portugueses... por que não?!! 
Por isso, propus-me, uma vez mais, lançar-me no desafio que é idealizar, montar, e PROVAR aos mais cépticos, um novo espectáculo numa das salas mais conceituadas e exclusivas no território nacional.
Faço-o por mim sim, pela Dança que acredito e amo sim mas, faço-o também por todos nós - colegas - que sei que diariamente investem na sua dança sem qualquer rede de apoio como eu.

APELO, mais uma vez (e não me cansarei de o fazer): APOIEM-ME indo assistir ao - sim - MEU show mas que é para TODOS nós.
APELO a apoiarem as colegas que também irão actuar junto comigo.
APELO para que, gostem ou não particularmente da minha dança, façam questão de comparecer com amigos e alunos afim, de se provar aos produtores de espectáculo que vale a pena investirem em shows de dança, de DANÇA ORIENTAL.
APELO ao vosso bom senso e UNIÃO para que de uma vez por todas esta nossa dança, no nosso país suba de patamar e deixe de ser vista como de quinta categoria.
APELO a não arranjarem desculpas porque havia jogo de futebol, concerto de um estrangeiro qualquer, jantar imperdível, muito longe ou (a que mais me irrita) o bilhete é muito caro... um dia, faço-vos um inventário detalhado do investimento que está por de traz de um projecto como este, para terem uma vaga noção do que eu coloco em risco. 
APELO a esta "luta" ser de todos nós, para que num futuro próximo hajam mais espectáculos nos grandes palcos com vocês.

Neste show em particular, eu, minhas colegas e algumas alunas iremos homenagear, através da nossa dança, o ser feminino. Conto com todos vós nesta celebração, pois acredito no poder das fêmeas, das mulheres, das bailarinas, das portuguesas.
Dia 2 Março no auditório do Museu do Oriente, às 21h30. 


Comentários

Mensagens populares deste blogue

Depois de tantos anos a Dançar e a Leccionar, não estás cansada?

  Queres uma resposta sincera a esta última pergunta selecionada desta série? Estou. Mas isso não me impede - por enquanto - de continuar. Eu sou bailarina e professora por vocação. Desde que me lembro sempre foi o "meu sonho" ser bailarina. E sempre me vi a fazer isso. A vontade de ser professora veio mais tarde, já em adulta, com a necessidade de querer passar os meus conhecimentos e experiência a quem me procura. Percebi, cedo na vida, que não seria feliz nem realizada se, pelo menos, não tentasse seguir a minha vocação. Com coragem, determinação e muita "fé", arrisquei. E depois de tantos anos, apesar de tudo, continua a fazer-me sentido. E, quando algo é tão natural e intrínseco a nós, é difícil ignorar e, largar. Com isto, não quero dizer que foi ou é fácil. E hoje, digo: preferia não ter esta vocação... preferia ter tido a vocação para ser médica, ou advogada, ou até arquitecta... tudo teria sido tão mais fácil. Tão mais aceite. E tão mais reconhecido...

Para ti, o que é mais importante no ensino da Dança Oriental?

Pergunta selecionada do mês de Abril e vou ser directa. Para mim, segundo a minha visão e experiência, o mais importante no ensino da Dança Oriental é conseguir empoderar aquela/e aluna/a passando-lhe o testemunho milenar da essência da D.O. Ensinar D.O., para além da sua complexidade técnica - porque não há propriamente um "guião" ou até mesmo formação para se ensinar como noutras danças - o mais importante é conseguir passar a sua essência. E aí está a questão: qual é a essência da D.O.?...  Esta é a pergunta que cada professora ou professor deve fazer. Se souber responder, ótimo! É meio caminho andado para criar ferramentas porque sabe o que está a fazer.  Se não sabe, eu acho que deve procurar saber.  Porque, digo-vos: o que mais impacta no ensino da D.O. não são a execução perfeita de mil e um movimentos, nem dezenas de coreografias... o que mais deixa legado é a forma e a atitude com que sentes a D.O. mostrando o seu carisma único. Há uma Alma a ser preservada indep...

Quero ser bailarina profissional de D. O. Como começo?

UI!!!!! Esta foi a pergunta selecionada deste mês de Maio e, deixa-me dizer-te: é uma pergunta para milhões. Foi exactamente esta a pergunta que fiz, há 21 anos atrás, à professora e única referência que tinha na altura. A resposta foi: "desenrasca-te". E, tive mesmo que me "desenrascar" numa altura que a Dança Oriental - embora na moda por uns tempos - carregava (e acho que ainda carrega, mas com menos peso) um grande preconceito, consequência de um legado de séculos de ignorância em relação a esta dança. E, passado duas décadas digo-te, a ti que queres lançar-te como bailarina profissional de D.O.: BOA SORTE! Porque não é fácil e, não há um guião. Há, ou tem de haver uma capacidade de resiliência e inteligência emocional que não é para todos. Se me lês regularmente, sabes que sou directa. Acredito que a verdade, sem floreados, vale mais que a resposta bonita e meiga. Neste mundo da Dança não há espaço para "meiguice". Há espaço - e tem de haver - para o ...