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Deixar acontecer, na dança e na vida...



Este foi, desde cedo, um dos lemas da minha vida.
Eu nunca me vi com a vida planeada, aliás, quem muito projectou o meu futuro foram os meus pais. Sonhavam - e cresci a ouvir - que eu fosse doutora, com um emprego (não trabalho), que entrasse à 9 da manhã e saísse às 5 da tarde, com um salário milionário e logo com filhos assim que me casasse. 
Até certo ponto cumpri com com todas as suas expectativas: estudei, comportei-me segundo as regras, era a filha ideal... mas com um senão, teimava em dançar e dizia que queria ser bailarina. E assim foi... não planeei, teimei que acontecesse.
SER BAILARINA e sê-lo a FULL TIME não é para qualquer um. São só para os corajosos que confiam e são fies a si próprios. Não pensam, deixam fluir. Não planeiam, vivem de improviso. Não estam agarrados ao passado, não receiam o futuro, gozam o momento. São guerreiros onde a dança - no palco e na vida - são as suas armas.
Tenho pena de quem não percebe este nosso "estranho modo de vida" (já dizia Amália), mas revolta-me a ignorância de quem não respeita outros estilos de vida sem ser os dito "normais". 
Serei anormal??? Não sei... se ser anormal é ser sincero e fiel às nossas convicções por mais malucas que pareçam, então eu sou. Se ser anormal é confiar que o Universo nos providenciará o que necessitamos para o dia a dia, então eu sou.
Não digo que, por vezes, não me vá abaixo, coloque as minhas convicções em causa, esteja assustada ou com medo. Sim, sou humana... mas, reflicto, acalmo-me, relembro quem sou, o que quero, para onde quero ir, improvisar momento a momento, não racionalizar demais, sinto-me minuto a minuto, conheço-me mais e mais.
Controlar?? Planear??Desesperar?? Não vale a pena... 
Como "aprendi" isto? Com a DANÇA. Simples. Que é a busca constante do auto-conhecimento mais profundo. Que é movimentar energia e não comunicar palavras pensadas.
Porque ao longo dos anos como bailarina, percebi que, na Dança como na Vida não quero ser cópia de nada nem de ninguém.  Manter-me genuína e única, requer um esforço constante em ir ao encontro do essencial para viver, que para mim é ser feliz, sentir e dar Amor. Confesso que é uma busca árdua, onde a minha capacidade física, psíquica, material e espiritual está constantemente posta à prova.
Seria mais fácil, ceder e coreografar tudo ao pormenor.  Seria mais fácil projectar o futuro, as expectativas, a reacção de quem nos vê. Seria mais fácil construir uma imagem segundo os padrões sociais. Seria mais fácil estar na "moda". Seria mais fácil, mas não seria verdadeiramente desafiante e sincero. 
Não pensem que quero que tudo na minha vida seja difícil e dramático! O que quero é VERDADE e GENUINIDADE. Só deixando-me ir é que consigo em cada dança, cada minuto AMOR, ARTE, FELICIDADE e SINCERIDADE. 
Nunca este lema me fez tanto sentido como nos dias que correm: Vou Deixando Acontecer. O Que Realmente Tiver de Ser, Será... na Dança como na Vida. 

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