Avançar para o conteúdo principal

Outro pecado, defeito ou talvez virtude


Não consigo ser hipócrita e cínica. Danço aquilo que sinto... e não há volta a dar.
Por mais que tente, não consigo, fingir que estou alegre quando estou triste, gostar quando não gosto, rir quando me apetece chorar, mentir quando me quero dizer umas verdades.
Sinceramente até hoje não sei se isto é uma virtude ou defeito.
Ao longo da minha vida poucas não foram as situações em que se tivesse sido hipócrita tinha ganho mais, em que se o cinismo falasse mais alto tinha evitado inúmeras "saias justas".
Muitas vezes a minha mãe e até marido dizem-me que não posso ser tão directa em certas situações, que às vezes a minha antipatia com quem não gosto é-me prejudicial. Dizem-me "finge" e eu respondo "é pá, não consigo" e não dá mesmo!
Confesso que alguns comentários que dou, resposta impulsivas, atitudes de mau humor caem-me mal e transpareço uma brutalidade que não é totalmente verdadeira. Quem não me conhece fica a pensar que sou arrogante, antipática, convencida e acabo por perder com isso.
Então quando danço... o meu estado de espírito transcende a minha vontade e cada movimento é o espelho do que verdadeiramente sinto, sem falsidades. E se tento "representar" sai asneira.
A minha assistente (sister) "passa-se" comigo e repreende-me variadíssimas vezes dizendo-me: "não faças essa cara, ri" mas é impossível quando não estou para aí virada, a menos que tenha uma audiência que é simpática comigo, "puxa por mim" e respeita o meu trabalho. Aí, posso estar de mau-humor que fico logo bem disposta e esse público terá o melhor da minha dança. Mas, se acontece o contrário, aparece espectadores que têm uma atitude oposta então eu danço mas, é o meu pior, a dança é seca, fria e na minha cara fica estampada a irritabilidade e o "frete".
Agora digam-me: não ganharia mais se, mesmo não gostando da situação onde estou a dançar, fingisse que estava tudo bem?
Assumia uma personagem e representava... mas isso é teatro e eu não sou atriz, sou bailarina. E não. Não é a mesma coisa. Nota-se perfeitamente quando um bailarino está cansado ou chateado, pois a dança e em especial a Dança Oriental é o espelho da nossa alma e vivências.
Se calhar tenho de encontrar um equilibro, um meio termo e não ter atitudes extremas.
"Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Nem oito nem oitenta." Lá diz a sabedoria popular.
Será que algum dia irei conseguir esse equilibro? Algum conselho?

Comentários

  1. Para a parte da dança não sei mesmo que te diga. Não tenho experiência para tal.

    A nível pessoal posso-te dizer que o "camuflar" sentimentos e pensamentos não é cinismo. Só o é quando pensas uma coisa e dizes outra pelas costas da pessoa. De outra forma não é hiprocrisia nenhuma. É como se te dessem um presente de que não gostas mas não podes dizer isso na cara da pessoa, tens de sorrir e agradecer. É ser delicado e cuidadoso para não magoar a outra pessoa.

    Isto aplica-se a tudo na vida. Não é fingir, é guardar para nós o que não há necessidade de deitar cá para fora.

    É um exercício. Consegues treinar isso. Sei disso porque tenho treinado precisamente a coisa contrário: dizer o que sinto e penso nas ocasiões certas, para não passar por "sonsa" e sem atitude.

    Beijinho ;)

    ResponderEliminar
  2. Olá!
    O que nos rodeia é reflexo de nós próprios. Já alguma vez pensaste nisso? Talvez possas começar por aí, "analizando-te" e ouvindo o teu coração. Não o ego! O coração. O ego é um separatista. E lembra-te sempre que o Universo não nos dá nada que não consigamos resolver, ultrapassar, superar. Talvez tenhas aí um bom desafio pela frente que já tem os seus frutos, porque tu própria já estás a chegar a algumas conclusões e isso já é um bom princípio. Agora, fazer teatro, não. Temos de ser nós próprios, sentirmo-nos bem como somos, aceitarmo-nos... mas também temos de aceitarmos os outros como eles são, compreende-los e respeitá-los nas suas diferenças... Somos todos Um!

    Gostei do teu blog e vim aqui parar atráves da Moonlight Song, uma amiga de luz que conheci nestas andanças dos blogs.

    Beijinhos de Amor e Luz,
    Angel of Light

    ResponderEliminar
  3. Olá!
    Eu acho que isso, não é um defeito mas uma virtude de certas pessoas (e principalmente das Saras, falo por mim), que consegue responder as pessoas e não fingir que não estão bem quando não estão... Conseguimos dizer o que sentimos , e algumas vezes as verdades a pessoas que as merecem ouvir, mas por vezes nós é que passamos por as mal educadas e que respondemos.. Mas para mim é uma virtude ter essa confiança e agir de forma natural não de fingir... Mas se te se ter confiança naquilo que se diz , e naquilo que se esta a sentir quando dizemos alguma coisa...

    Beijinhos
    E agredite que isso não é defeito nenhum mas sim uma virtude!!

    Beijinhos...
    Assinado: Sara Biscainho..

    ResponderEliminar
  4. Olá Sara :),
    no meu caminho é ser sempre fiel a mim própria e aos outros e isso significa não fingir, não esconder, ser verdadeira. É a postura que escolhi.
    Não será o dizer e o demonstrar que não deverão acontecer, será talvez fazê-lo de forma mais suave.
    Por exemplo, a história da menina dos kids que contaste na aula, ela podia estar a fazer tudo mal, ou desconcentrada ou o que for, mas não seria melhor se não houvesse uns berros/ou "passanços"? Não é por isso que ela percebe...
    No meu entender e do que conheço de ti, acho que passa mais por seres mais paciente e suave na forma como reajes e te expressas. E se numa sala existem 60 pessoas que não estão a ligar nenhuma ao teu show, se calhar estás tão irritada com isso que nem reparas que lá no meio há uma que está a gostar, mas que vê que estás com cara de frete.
    Ser tolerante, é uma lição muito difícil (em certas situações para mim também tem sido), mas concordo com o que escreveu a minha amiga angel of light acima (foi muito bom vê-la escrever para ti), e saliento o que para mim também tem sido uma enorme lição, temos de respeitar as diferenças dos outros (todas elas, até de sensibilidade).
    Quando nos sentimos magoados com as diferenças dos outros no fundo é o nosso ego, não podemos deixar isso acontecer.
    Cada um vai tendo a postura que vai decidindo adoptar ao longo da vida.
    Mas se te questionas, acho que a verdade é o caminho, aprendendo a ser sempre mais tolerante e com compaixão no coração.
    Pelo seu próprio caminho, aquela pessoa, naquele momento, não sabe agir/ser de maneira diferente, é o que é.
    Desculpa a extensão do comentário, mas não tenho muito poder de síntese, isto é o que sinto.
    beijinhos.

    ResponderEliminar
  5. Obrigado pelos vossos sábios comentários!!
    Que bom que é partilhar convosco as minhas ansiedades...

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Mensagens populares deste blogue

Diário de Uma Professora de Dança Oriental - #aula34

 Querido Diário, Foi no passado sábado que aconteceu a terceira aula presencial (e última) desta época lectiva. Estas aulas extraordinárias são importantes. Essenciais para podermo-nos conectar sem o filtro do OnLine. Como já tinha dito anteriormente, por uma questão prática - e não só - as aulas online são eficazes e resultam mas, nada substitui o estar, o “olho no olho”, o toque, o sentir no presencial. O ser humano é um bicho social que precisa desta troca energética e, na dança é fundamental. Por isso, estas aulas esporádicas tornaram-se um encontro ainda mais especial. Porque ali, naquele espaço seguro, aproveitamos ao máximo cada momento. Cada riso. Cada movimento. Cada silêncio reflectido num olhar. Cada palavra traduzida numa dança. Saímos com a alma leve. Com a sensação que valeu cada minuto. Nestas aulas, faço questão de levar a minha filha, que vê e aprende, sem pressões ou espectativas, a minha arte. Assiste ao respeito que nutro pelas alunas neste ...

Diário de Uma Professora de Dança Oriental - #aula33

 Querido Diário, O nosso estado de espírito influencia a qualidade da nossa dança. Sempre senti isso. Junho, sol, feiras populares é sinónimo de boa disposição que se reflecte logo na dança. Foi nesse espírito que aconteceu a #aula33 e foi uma aula 5 estrelas. Houve disponibilidade para a criatividade onde a Improvisação - com método - foi rainha. É impressionante como é na prática que se consegue (também) os resultados. Com regularidade nas aulas, as alunas estão cada vez mais, à vontade para Improvisar e, a fazê-lo bem. Como já disse várias vezes, Improvisar custa. Não é algo óbvio ou intuitivo. Não basta ter talento. Tem de haver investimento de tempo a ir às aulas. Disciplina para cumprir um método de trabalho técnico e, muita vontade. De superar desafios, metas e até, crenças.   Segue-se, uma aula presencial... estou ansiosa para estar com as alunas e partilhar energias e claro, dança... muita dança. Depois conto-vos tudo!

Diário de Uma Professora de Dança Oriental - #aula32

 Querido Diário, E chegámos ao final do mês de Maio e a #aula32 acontece numa data muito particular para mim... Foi o dia que comemorei 18 anos de casamento. Sim. 18 anos. Enquanto dava a aula - online, no meu estúdio em casa - o meu marido cuidava e, preparava algo especial e diferente para nós usufruirmos depois da aula terminar e a filhota dormir. A presença e o incentivo por quem nos conhece e acompanha é fundamental no sucesso de quem escolhe uma vida artística. De uma maneira diferente de há mais de 20 anos atrás, hoje, o meu também marido, continua a respeitar e a apoiar o meu percurso que é muito mais do que se vê nos “palcos”. Os bastidores deles são de uma brutalidade inexplicável que só quem os vive sabe. E o meu companheiro de há 25 anos, sabe. Ele vive, e viveu, todos estes espaços e momentos comigo. Todos os altos e baixos. Para bem e para o mal. Talvez seja isso que é verdadeiramente um casamento. Na festa, precisamente há 18 anos atrás, dancei... e o...