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Quero ser bailarina profissional de D. O. Como começo?

UI!!!!! Esta foi a pergunta selecionada deste mês de Maio e, deixa-me dizer-te: é uma pergunta para milhões.

Foi exactamente esta a pergunta que fiz, há 21 anos atrás, à professora e única referência que tinha na altura. A resposta foi: "desenrasca-te".

E, tive mesmo que me "desenrascar" numa altura que a Dança Oriental - embora na moda por uns tempos - carregava (e acho que ainda carrega, mas com menos peso) um grande preconceito, consequência de um legado de séculos de ignorância em relação a esta dança. E, passado duas décadas digo-te, a ti que queres lançar-te como bailarina profissional de D.O.: BOA SORTE! Porque não é fácil e, não há um guião. Há, ou tem de haver uma capacidade de resiliência e inteligência emocional que não é para todos.

Se me lês regularmente, sabes que sou directa. Acredito que a verdade, sem floreados, vale mais que a resposta bonita e meiga. Neste mundo da Dança não há espaço para "meiguice". Há espaço - e tem de haver - para o respeito, com assertividade e convicção para não seres engolida pelas modas e pela via mais fácil e ilusória. Uma carreira de bailarina constrói-se. Dança a Dança, Aula a Aula, Escolha atrás de Escolha. Ano após Ano. É uma vida de decisões e consequências. Não é romântico. E é muito solitário.

Por isso, antes de pensares em te lançares, percebe se é isso MESMO que queres. Porque não basta ter vontade. Tens de sentir que nasceste para aquilo. Quase que não vives se não o fizeres. Se não sentires isso, deixa-te estar nas apresentações com as tuas colegas, a participar em competições e em mostras de dança, a ter as tuas aulas e convívios. E está tudo bem! 

Viver e ser profissional como Bailarina de Dança Oriental exige requisitos que, por mais que gostes de dançar e por mais que ames esta dança, podes não estar disposta a eles. E está tudo bem também. O que é mau - a meu ver, claro - é quando não percebes esses mesmos requisitos e comprometes todo um grupo de profissionais que "lutam" por dignidade na profissão há anos. Porque, cada vez que danças para um público e, se por cima, recebes dinheiro por isso, tens uma responsabilidade acrescida para com toda uma Comunidade e Dança. Pensa também nisto.

Não é para todos. Lamento. Requer de ti não só o clássico talento e capacidade de trabalho mas também - e principalmente - essa tal inteligência emocional e muita dose de humildade. Porque ser bailarina é acima de tudo, servir. A Dança e aquele público. Não é sobre ti. Outro pensamento para reflectires. E depois tens de lidar com o julgamento, o preconceito, a instabilidade (a todos os níveis), a frustação, a procura constante por trabalho, e vais estar sempre a ter de provar o teu valor. SEMPRE. Nunca estás "garantida". E os aplausos... esses só aparecem quando o mereces.

Primeiro, tens de fazer todo este exercício e só depois, percebes se estás disposta ou não. Porque há factura. Podes ter a certeza disso. E assim, lança-te. Sem medo. Cria as tuas oportunidades. Não esperes que as te dêem porque não vão "cair do céu". Traça os teus objectivos e trabalha para eles. Com certeza. E prova a cada oportunidade e a cada dança que mereces ser bailarina. Que vale a pena assistirem a uma dança tua e/ou fazerem as tuas aulas. Porque acrescentas valor e encantas a quem te vê ou aprende contigo. Prova a cada dança que impactas e, que a Dança Oriental só ganha em te ter como "embaixadora".

Como te disse, não há guiões. Há um começar. Com consciência e muito, muito Amor.

Boa Sorte!!









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