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Ser Livre

Este post serve-me como uma reflexão pessoal que partilho convosco.

Há dias li esta frase:

"A liberdade ofende porque é como um espelho reflectindo todas as prisões que a gente vive." Autor desconheço.

Verdade... e não consigo perceber - ou melhor consigo - porque é que a liberdade de uns, chateia tanto outros. Mas, pensei também: e quem é que fica mais incomodado, o que exerce a liberdade ou quem a assiste?.... 

Pensando bem, dei por mim a dar-me conta que, muitas vezes (vezes demais), senti necessidade de pedir desculpa por fazer exercer as minhas escolhas, decisões, vontades... a minha liberdade. E, aposto que muitas de vocês que me estão a ler, também já sentiram isso. Estranho, não é?!... Parece que ficamos constrangidas por fazermos o que nos apetece. Porque sentimos que ofende. Porque parece que não é suposto. Parece errado. Muito mais sendo mulher... uma mulher livre, parece que ofende muito mais...

Claro que estou a falar de uma liberdade com responsabilidade. Com bom senso. A minha liberdade nunca pode invadir o espaço do outro. Porque também vejo e oiço pessoas a pensarem que estão a ser livres e autênticas e não passam de umas mal-educadas... Há muito disso. Confunde-se muito liberdade com falta de humanidade e bom senso. A liberdade que falo é em sermos livres no sentido mais puro e responsável do termo. Com consciência que as nossas acções impactam. Porque sermos livres exige saber o que estamos a fazer. 

E como saber fazer isso?... Nunca ninguém me ensinou e não me lembro de ter tido essa disciplina na escola... foi e é a vida que nos vai ensinando. E sermos fiéis a nós próprias não significa não ter de passar por processos internos complexos a fim de desconstruir tantas crenças que nos passaram. Não significa não ter de fazer tudo o que tem de ser feito. Ser livre, a meu ver, significa acima de tudo, saber e fazer respeitar a minha vontade. Saber o que me apetece. E eu pergunto: quantas de nós se conhece ou sabe o que quer?!... Não respondas já. Pensa um pouquinho.

Eu tento ser livre e fazer o que me apetece, mas sei que tenho ainda um percurso a fazer de desconstrução de tantas prisões que me fizeram pensar que precisaria delas e que acabei por normalizar. Banalizei até. Ser livre exige um autoconhecimento profundo e este... é duro e difícil de conseguir. Mas é possível.

Olhando para trás, comecei a exercer a minha vontade há mais de 20 anos atrás quando, em reação à minha intuição, comecei a dançar (Dança Oriental). Nesse momento iniciou-se parte do longo percurso que é o  autoconhecimento. Inconscientemente, usei a dança como ferramenta para perceber o que é que - realmente - me apetecia fazer. Não só na dança propriamente dita mas na vida... no dia a dia. Descobri que sou uma bailarina que faz só o que deseja. Só o que lhe faz sentido. E nunca comprometi ou negociei isso. Ficam sempre muito espantados quando digo que danço só o que me apetece. Improviso no momento tendo como base um trabalho intenso interno e técnico. Porque fazer o que apetece exige um trabalho de bastidores ainda mais difícil. 

Acho que é nesta área da minha vida que exerço a minha maior liberdade. E não me arrependo. Porque sei que aqui, na dança, sou e posso ser completamente livre. Não sei se em todas as outras áreas podemos ser assim tão livres... há muitas condicionantes... não sei... mas no palco, sou. E é tão bom.






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